Caxias do Sul 16/05/2024

Ler histórias em família: vínculos para a vida toda

Somos envolvidos diariamente por narrativas da vida real
Produzido por Roberta Debaco Tomé, 18/03/2020 às 22:40:24
Foto: ARQUIVO PESSOAL

Férias de verão. Quando criança, num período em que meus pais não podiam ir à praia comigo e minha irmã, costumávamos acampar em Curumim, com meus avós maternos: vô Mário e vó Fifina, como carinhosamente a chamávamos. Saíamos de Caxias num Opala bege/76, imponente. No banco de trás, eu, minha mana e dois primos.

Na bagagem, muita expectativa. E assim partíamos, alegres, rumo ao litoral. Lá, as aventuras eram sem fim... dormir em barraca, acordar com o barulho do mar, tomar café da manhã à luz do sol... Mas a melhor parte era, sem dúvidas, o banho de mar e o lanche feito com dedicação pela vó.

Uma das cenas mais cômicas dessa época foi aquela da vó Fifina entrando no mar para pingar colírio em nossos olhos. Ela lutava bravamente contra as ondas de Curumim, certa de que nos alcançaria e cumpriria seu intento. Ainda me questiono o porquê do colírio... Lindas lembranças... histórias que gostamos de dividir com as pessoas que fazem parte da nossa vida.

Reunião em família, encontro com amigos, recreio na escola... alguns dos momentos do nosso cotidiano em que paramos e ouvimos boas histórias. Somos envolvidos diariamente por narrativas da vida real. Nascemos com essa habilidade de ouvir...e contar...

Daí o encantamento de crianças por escutar histórias, o que inclui as narrativas que estão nos livros literários. Mas, num tempo em que as pessoas estão sempre atarefadas, cumprindo horários, comprometidas com diversas atividades, mães e pais se esquecem desse pequeno prazer... de ler, contar, ouvir. Quem, hoje, para e lê em família?

Embora a leitura seja uma atividade individual, ler junto é aconchegante. A leitura aproxima as pessoas. O quão prazeroso pode ser um final de dia, pais e filhos acomodados no sofá (ou em qualquer outro espaço de nossos lares) lendo em partilha! Compartilhar uma história em família une, cria laços de afeto, proporciona o diálogo.

Se nos reunimos para fazer uma refeição juntos, para assistir a um filme ou realizar uma caminhada no parque, o que nos impede de lermos também em grupo? Muitas famílias atribuem à escola e ao professor o papel de inserir suas crianças no universo da literatura. O que ignoramos é aquele velho ditado popular: exemplo vem de casa.

Pensar o papel da Literatura não só na escola, mas na nossa vida, significa pensar o que nos constitui como humanos. Somos sujeitos feitos de linguagem. Através de um bom romance, de um conto ou de uma crônica, por exemplo, abrimos espaço para o diálogo, para a reflexão.

Permitimos que nossos filhos externalizem o que pensam... o que sentem... A literatura tem esse poder de provocar catarse. Que possamos colocar na nossa lista de metas para este ano a literacia familiar. Em tempo de coronavírus, um agradável programa para se fazer em família.

Roberta Debaco Tomé é professora de língua portuguesa e literatura

e-mail:robertadebacotome@gmail.com