Nunca se falou tanto sobre violência contra a mulher. Nunca se viu tanta violência bárbara acontecendo bem diante dos nossos olhos.
O que antes era escondido, varrido para debaixo do tapete, hoje escancara sua presença. A violência não acontece só longe, acontece com a nossa vizinha, com a colega de trabalho, a parceira da academia, dentro da nossa própria casa.
Nos últimos dias, ainda atordoadas pelos 61 socos sofridos por Juliana, no Rio Grande do Norte, em uma tentativa brutal de feminicídio, mal tivemos tempo de respirar. Logo depois, sangramos com Eduarda, assassinada com 127 facadas em Alegrete, aqui no nosso Rio Grande do Sul.
Não são apenas agressões ou mortes. São execuções. Crimes de ódio. Violência com motivação clara: desfigurar, anular, silenciar. Matar por ser mulher.
Ainda nos perguntamos por que isso acontece, como se a resposta já não estivesse escancarada há muito tempo.
Vivemos em uma sociedade machista, onde mulheres são tratadas como propriedade. Como algo que pode ser descartado quando decide ir embora, quando ousa falar, quando resolve ser livre.
E mesmo diante da brutalidade, continuamos buscando desculpas. “Ele estava em surto.” “É um psicopata.” “Um monstro.”
Mas a verdade é mais difícil de aceitar. Os agressores não são monstros. São homens comuns.
Aquele colega simpático, o vizinho sorridente, o pai presente, o filho amado. O agressor não tem cara. Tem permissão social.
Está na hora, ou melhor, já passou da hora, de pararmos de fingir surpresa.
A violência acontece porque os homens acreditam que têm esse direito. Porque foram ensinados a usar a força como forma de controle, como expressão de masculinidade. Porque a cultura ainda repete, como numa música gaúcha, que “a mulher ajoelha e chora”.
Mas nós não queremos mais ajoelhar. E já não temos mais lágrimas suficientes.
Com 37 mulheres mortas no Rio Grande do Sul apenas neste ano, é urgente escancarar o que muitos ainda se recusam a ver.
Pensando nisso, o Grupo Mulheres do Brasil – Núcleo Caxias do Sul, por meio do Comitê de Combate à Violência contra a Mulher, lança neste mês de agosto a campanha Cadeira Vazia.
A proposta é simples, mas poderosa: ocupar espaços públicos com cadeiras vazias, cada uma representando uma mulher que foi morta apenas por ser mulher. Uma ausência que continua presente. Uma ausência que incomoda.

O feminicídio não mata só a mulher. Mata sonhos, mata projetos, destrói famílias.
E essa ausência permanece. A cadeira que ela ocupava na sala de jantar, na empresa, no grupo de amigas, na escola dos filhos, continua vazia.
Por que nos matam?
Porque somos mulheres.
Se a resposta já está dada, precisamos agora buscar, com urgência e coragem, a solução.
Gerusa Ribeiro é advogada especialista em direitos das mulheres, pós-graduada em Ciência Política e integrante do Grupo Mulheres do Brasil – Núcleo Caxias do Sul, onde lidera o Comitê de Combate à Violência contra a Mulher.