Caxias do Sul 07/05/2024

Abertura do comércio de chocolate em Caxias, decisão ainda indigesta

Liberação da prefeitura não é consensual entre comerciantes e consumidores, que acreditam que setor não é essencial e que as dificuldades atingem a todos
Produzido por Silvana Toazza, 06/04/2020 às 20:48:54
Foto: Liliane Giordano

A liberação da abertura das lojas de chocolates de Caxias nesta semana que antecede a Páscoa, a partir de anúncio da prefeitura nesta segunda-feira (6), está longe de ser consensual. Apesar de ter sido uma solicitação de entidades representativas do setor na cidade, como Sindilojas, CDL e Sirecom, a decisão não foi bem digerida nem entre a totalidade dos comerciantes nem entre parte dos consumidores.

No geral, o comércio de outros setores, como vestuário e calçados, e de serviços, como salões de beleza e restaurantes, se sentiu preterido, pois entende que a medida pode beneficiar uns em detrimento de outros. E que não só de ovos e coelhos adocicados vive o varejo de Páscoa, e não são apenas os comerciantes desse segmento que enfrentam duras dificuldades diante das medidas de restrição contra o coronavírus. A crise é, sim, generalizada.

Mas nem entre lojistas do mesmo setor, ou seja, de chocolates, há o entendimento de que todos sejam favorecidos do mesmo jeito. Entre os poréns está o fato de que muitas lojas de chocolate e outras que também vendem esse tipo de produto (e, portanto, poderiam funcionar) estão instaladas dentro de shopping centers, que no momento estão organizados para a abertura apenas de supermercados, lotéricas e farmácias. Há dúvidas se conseguirão negociar a modificação da estrutura de segurança e se vale a pena a abertura de um ponto ou quiosque por vezes em área isolada dentro de um amplo empreendimento comercial.

Consultado pelo site na noite desta segunda-feira, o Iguatemi Caxias informou que ainda não havia feito mudanças e que no momento apenas o Carrefour e a lotérica estão atendendo. A farmácia preferiu deslocar suas equipes para unidades de rua.

No Bourbon San Pellegrino também não há a informação se a medida será esticada para a área de chocolate, e, levando-se em conta que as poucas lojas que vendem ovos de Páscoa ficam espalhadas por andares, a logística pode ser ainda mais complexa. O Prataviera Shopping está totalmente fechado, incluindo estacionamento, e também não há confirmação se torna-se viável a abertura para poucas lojas.

Portanto, ouvindo empresários e consumidores, a percepção é de que:

- Chocolate não é artigo essencial e pode ser adquirido em supermercados, já contemplados pela medida de exceção como setor essencial.

- Há empresas do setor lançando mão a estratégias de delivery, o que facilita a aquisição por parte do consumidor.

- Outros segmentos também se beneficiariam da Páscoa, como vestuário, calçados, joias, floriculturas, salões de beleza e restaurantes (até porque nem todos presenteiam com chocolates), mas estão impedidos de funcionar.

- Nem mesmo as lojas de chocolates consentem nessa decisão, uma vez que os estabelecimentos de rua terão vantagem em relação às lojas de shoppings

- A favor do setor, pesa o fato de que é um produto perecível e que, portanto, sujeito a prejuízos na melhor data de vendas do ano

A medida, porém, pode abrir precedente a mais pressões setoriais, num momento em que o decreto estadual estipula até o dia 15 de abril o prazo para o não funcionamento do comércio no RS. Há outro fator a ser levado em conta: lojas que vendem chocolate também trabalham por vezes com outros produtos, que teoricamente não podem ser vendidos, podendo desencadear episódios como o da Havan em Porto Belo (Santa Catarina), que foi fechada no sábado por desacatar a ordem de vender exclusivamente gêneros alimentícios. Haverá fiscalização suficiente?