Caxias do Sul 10/05/2025

O melhor de mim

No Dia Internacional da Mulher, a história inspiradora de superação da diretora de um hospital da Serra Gaúcha, que enfrentou (e venceu) lutas pessoais, profissionais e de saúde
Produzido por Rosane Maroso, 08/03/2022 às 08:14:14
Rosane Maroso compartilha sua história de lutas
Foto: Ticz Fotografia

POR ROSANE MAROSO

Não nasci num berço de ouro. Desde cedo aprendi os valores da vida, conheci o trabalho e as dificuldades apresentadas. Tive uma infância e adolescência normais, estudava à noite para, durante o dia, ajudar os pais na agricultura. Me formei em Contabilidade. Morando no interior, casei, tive duas lindas filhas, exerci também por vários anos a atividade de fiscal dos produtos na empresa Dália, separei, larguei tudo e, com minhas filhas e uma gata, recomecei minha vida em Nova Bassano, cidade da Serra Gaúcha com cerca de 9 mil habitantes.

Minha meta era vencer as dificuldades, trabalhar e propiciar às minhas filhas um curso superior. Por nove anos, exerci a atividade de taxista autônoma, uma profissão rara para mulheres na época. Enfrentei muitas dificuldades, sendo perseguida, discriminada e também assaltada, mas mesmo assim fui sempre abençoada nesta atividade.

Não só formei minhas filhas nos cursos de Enfermagem e Medicina Veterinária, como eu mesma também ingressei e me formei no curso de Direito na Universidade de Caxias do Sul (UCS) e, desde 2013, estou na direção da Associação Comunitária Hospital Nossa Senhora de Lourdes, hoje cursando pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) no Curso de Gestão de Pessoas, Carreira, Liderança e Coaching.

Com 54 anos de idade, avó de três netos, vivendo uma união estável, como toda mulher, vivo sonhos e ambições, idealizo para mim mudanças e acredito que isso me faz uma mulher realizada. Na maternidade, percebi o quão forte uma mulher pode ser.

Rosane se reinventou após vencer o câncer de mama (Ticz Fotografia)

Final do ano 2020, alterações mamárias foram identificadas, autoexames, mamografias e aquele acompanhamento semestral. Afinal, são orientações que seguimos por nos amar. Um diagnóstico de câncer de mama “carcinoma in situ”, que significa que a alteração neoplásica está dentro dos ductos mamários.

Momento Covid-19, meu Deus, fui diagnosticada para mastectomia bilateral radical, como forma de tratamento, embora o procedimento cirúrgico se revele como mutilador da mama que é símbolo de sexualidade, erotismo e maternidade para a mulher. Medo, raiva, angústia e ansiedade, me deixando mais sensível, fragilizada, precisando da família, dos amigos, para assumir o papel de proteção, amparo, incentivo e motivação.

Assim, realizei três cirurgias, o pós-cirúrgico extremamente difícil, longo e limitante, pois requer adaptações no modo de pensar e agir. Fugi do leito do hospital para a mesa do trabalho. A mamoplastia, além de restaurar a aparência da mama, amenizou um pouco meu trauma psicológico. Uma nova maneira de compreender e valorizar a vida, me superar, ter e manter saúde.

Força e fé nortearam trajetória de superação (Ticz Fotografia)

Hoje mantenho cicatrizes no corpo deixadas pela mastectomia e seguida de uma histerectomia. Fui medo, me transformei, busco ser o melhor de mim todos os dias. O aprendizado da vida inclui cair e levantar todas as vezes que for preciso. Tudo pode ser visto como problema ou oportunidade. Ohei como oportunidade e fiz a diferença. Fui a minha própria motivação, tracei objetivos e criei sonhos. Foi difícil, mas com fé e muita luta, eu venci. Abrir nossa mente, olhar para o horizonte, não desanimar, enfrentar os obstáculos, ser mulher, amar e se amar é o grande segredo da superação.

Rosane Maroso é diretora do Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em Nova Bassano, na Serra Gaúcha