Caxias do Sul 03/05/2024

Dicas culinárias em viagem

Andanças do cronista revertem em sugestões de delícias gastronômicas insuperáveis
Produzido por Paulo Damin, 01/09/2023 às 14:40:55
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul
Foto: ARQUIVO PESSOAL

Se estiveres indo para o litoral pela Rota do Sol não concluída, descendo a estrada de chão montado em uma Rural, cujo motorista desliga o motor para economizar gasolina nas curvas que costuram a montanha, não deixes de parar na Tenda da Alemoa, debaixo daquelas araucárias, onde fica o cachorro bege amarrado na frente, e pede um café com leite para forrar o estômago junto com um sanduíche frio de pão branco, presunto e queijo.

Evidentemente, isso deve ser feito às sete da manhã, que nos Campos de Cima da Serra equivale às cinco da cidade, devido à geada que não desmancha, ao vento que não cala, ao dia que foi camperear em outras bandas e vai aparecer por aí mais tarde, montado em seu cavalo colorado.

Se, por outro lado, estiveres em Porto Alegre num sábado de manhã com sol, que lá às oito já te faz arder e suar sob a camiseta de física, não deixes de sair a pé pelo bairro, chutando as sementes de jacarandá e pisando as cascas daquela outra árvore grandona que solta vagens que secam e se retorcem e produzem crocância quando pisas. Então calca o pé com gosto pelo bairro no rumo da Redenção, onde não deixarás de tomar uma cerveja enquanto o calor do asfalto digladia com o mormaço aéreo para ver quem dos dois te fará pedir mais uma.

Evidentemente, depois das biras deverás tomar teu mate na grama do parque, tentando decidir onde comerás tua alaminuta, seja lá como se escreve o nome desse prato ideal para um almoço de sábado. Inclusive, poderás discutir sobre as diferentes grafias dessa palavra, ou expressão, com as pessoas que almoçarem contigo: aquela que pedirá uma à la minuta de vaca, aquela que pedirá uma ala minuta de frango e aquela que proporá ao garçom uma substituição do pedaço de bicho morto por um ovo – e que talvez recuse tomar uma cerveja enquanto a comida não chega, mesmo que conheça a dica preciosa de Chico Science & Nação Zumbi sobre como uma cerveja, antes do almoço, é muito bom pra ficar pensando melhor.

Mas sim, se estiveres gripado em Roma, mesmo que à noite, não deixes de te atracar num apimentado prato de penne all’arrabbiata, tratando de pronunciar corretamente as consoantes duplas para que o garçom e sobretudo o cozinheiro não se permitam fazer uma piada sexista devido ao fato de que pene, com um n só, traduz aquilo que estás pensando quando lês essa palavra sob o filtro da língua portuguesa, sobretudo da maliciosa versão brasileira dela.

Evidentemente, sugiro o prato de massa para curar a gripe porque suponho que, na noite de ontem, terás tomado uma bela minestra, acompanhada por um vinho preto daqueles do sul desértico, digamos o primitivo, o que me lembra também de te sugerir misturar sempre um tantinho de graspa no café, mesmo depois do almoço, em Poa, ou de manhã cedo, quando estiveres descendo para o litoral, pela Rota do Sol inconcluída, na Rural de motor desligado, ao som das estrelas que sequer suspeitam que, daqui a pouco, o dia vai voltar de suas andanças alhures, sentar no mochinho e pitar do seu palheiro como um peão faminto.

Pensei também em te indicar uma pamonha com caldo de cana em Floripa. Então vai lá. Come uma pamonha com caldo de cana em Floripa.

Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.

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