Caxias do Sul 18/05/2024

As 80 largadas de Wilsinho Fittipaldi

Icônico piloto brasileiro celebra oito décadas de vida em plena forma
Produzido por Luiz Carlos Secco, 21/12/2023 às 10:25:13
Luiz Carlos Secco é jornalista especializado no setor automotivo
Foto: ARQUIVO PESSOAL

No próximo dia de Natal, 25 de dezembro, Wilson Fittipaldi Júnior (o Wilsinho Fittipaldi) comemora 80 anos e faço questão de homenageá-lo e cumprimentá-lo, assim como sua esposa e toda a família de forma especial pelas duas importantes datas. Também quero agradecer a alegria e o entusiasmo que sempre transmitiu a mim e a todos que apreciam o automobilismo ao longo de muitos anos.

Simplesmente porque foi o pioneiro, depois de Christian Heinz, da geração de ouro de pilotos brasileiros. Ele foi escolhido pelo chefe da equipe Willys, Luiz Antonio Greco, para conduzir, em 1966, o primeiro carro internacional construído no Brasil pelo artista e mestre Toni Bianco para uma série de corridas de um torneio de carros da Fórmula 3 na Argentina, com a participação de equipes europeias e pilotos de vários países do mundo.

Wilsinho Fittipaldi fez história no automobilismo nacional

Como os torcedores brasileiros só admitem vitórias, poucos reconheceram o valor do desempenho de Wilsinho contra os melhores pilotos do mundo, registrando resultados importantes para uma estreia em corridas internacionais e também do primeiro carro construído no Brasil, com os limitados recursos disponíveis.

Wilsinho formou, com Bird Clemente e Luiz Pereira Bueno e outros pilotos a equipe Willys, o principal time do automobilismo nacional, o de maior visibilidade para os apreciadores do esporte de corridas e o de maior número de vitórias, conforme me informou um estudioso uruguaio em automobilismo, cujo nome acabei esquecendo.

Na época, o profissionalismo começava a florescer no Brasil e as fábricas de automóveis existentes no país, como a Willys, Simca, Vemag e FNM, investiam na formação de equipes e usavam as corridas como instrumento de divulgação e promoção de vendas, disputando as provas com diferentes pilotos independentes.

Wilsinho foi um piloto de muitas vitórias e grande prestígio, e a sua atuação mais empolgante a que assisti ocorreu em Vitória, capital do Espírito Santo, em corrida que não venceu, mas que foi autor de um show de atuação pelas ruas que formavam o circuito.

Na condução de um Alpine com motor de apenas 1,3 litro, acompanhou dois Simca Abarth mais potentes e deu trabalho aos pilotos da equipe Simca, exigindo forte empenho, que resultou num presente ao público que assistiu a um espetáculo inesquecível. O rugido do motor do carro de Wilsinho fazia-o parecer uma fera perseguindo a sua caça.

Além de piloto, Wilsinho foi um jovem criativo, a começar com a produção de rodas de magnésio, que não existiam no país, com apoio da fábrica Italmagnésio, e a produção de carros da Fórmula Vê para o lançamento da categoria no Brasil, junto com Emerson.

Com intensa criatividade, os irmãos Fittipaldi também lançaram o projeto do volante de direção esportivo com o nome de Fórmula 1 e, em 1969, a construção de um Volkswagen equipado com dois motores, que não venceu corridas e teve vida curta, mas que empolgou o público pelo seu desempenho contra carros mais modernos e potentes, até chegar, alguns anos depois, como responsável pela construção do primeiro e único Fórmula 1 brasileiro.

A história do Fusca bimotor começou em 1966, quando Wilsinho enfrentava adversários com Ford GT40, Lola T70 e Alfa 33, e surgiu a ideia dos amigos Ary Leber, Nelson Brizzi e Ricardo Divila de unir dois motores pelo virabrequim, usando uma junta elástica e kits Okrasa em cada motor, elevando a capacidade cúbica de 1.300 para 2.200 cm3 e a potência de aproximadamente 400 cv.

O projeto envolveu também a laminação de uma carroceria de fibra, produzida pela Glasspac, que pesava apenas 17 quilos e que resultou num carro com peso total de 420 quilos com a relação peso-potência ligeiramente acima de 1 kg/cv. Possivelmente, na época, o Fusca mais veloz do mundo.

Projeto do Fusca bimotor marcou época

Depois do Fusca bimotor, o projeto da família Fittipaldi foi a viagem de Emerson para a Inglaterra, o que encantou o público do automobilismo com o sonho de fazer o Brasil chegar à Fórmula 1, e abriu a oportunidade também para Wilsinho integrar a principal categoria do automobilismo mundial.

Enquanto Emerson ascendeu à Fórmula 1 com a equipe Lotus, de 1970 a 1973, Wilsinho acertou contrato com a Brabham, equipe que defendeu até a ousada construção do primeiro e único Fórmula 1 brasileiro, com o patrocínio principal da Copersucar. Esse carro foi um sonho que se tornou realidade, inicialmente pilotado por Wilsinho, em 13 corridas, da Argentina aos Estados Unidos, em 1975, e depois por Emerson Fittipaldi, também criando oportunidades para outros brasileiros, como Alex Dias Ribeiro, Francisco Serra e Ingo Hoffman, além de estrangeiros como Keke Rosberg e Arturo Merzário.

Copersucar, o primeiro carro de Fórmula 1 fabricado no Brasil

Apesar das críticas de exigentes torcedores, a equipe Fittipaldi registrou a conquista do segundo lugar no Grande Prêmio Brasil de 1978, disputado no Rio de Janeiro, com Emerson Fittipaldi e dois terceiros lugares, obtidos por Emerson, no Grande Prêmio do Oeste dos Estados Unidos, em 1980, e por Keke Rosberg, no Grande Prêmio da Argentina do mesmo ano.

Além da carreira que realizou e os resultados que obteve em suas corridas, Wilson Fittipaldi Júnior orgulha-se do desempenho de seu filho, Christian Fittipaldi, que disputou corridas da Fórmula 1, Champ Car e NASCAR Winston Cup, três das principais categorias do automobilismo mundial, além de diversos campeonatos de kart e vencedor de campeonatos da Fórmula 3 Sul-Americana e Fórmula 3.000 Internacional.

Na Fórmula 1, Christian participou em 43 Grandes Prêmios e correu pelas equipes Minardi e Arrows, venceu duas provas da Fórmula Kart mundial e conquistou vitórias, em 1996 e 2002, no Road America e California Speedway, e um segundo lugar na 500 Milhas de Indianápolis, em 1995.

Também venceu a tradicional corrida 24 Horas de Daytona, em 2004, 2014 e 2018; 12 Horas de Sebring, em 2015, 6 Horas de Watkings Glen e o título de piloto da United Sports Car Championship, em 2014 e 2015.

Agradeço e cumprimento Wilsinho pelos momentos de alegria e as emoções que proporcionou a mim, a meus filhos e a milhões de brasileiros que acompanharam a sua carreira esportiva e o seu pioneirismo na construção de carros de corrida.

Luiz Carlos Secco trabalhou, de 1961 até 1974, nos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, além da revista AutoEsporte. Posteriormente, transferiu-se para a Ford, onde foi responsável pela comunicação da empresa. Com a criação da Autolatina, passou a gerir o novo departamento de Comunicação da Ford e da Volkswagen. Em 1993, assumiu a direção da Secco Consultoria de Comunicação.

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Créditos das imagens: Arquivo Autoestusiastas/Arquivo Formula Vee Brazil/Arquivo Internet