Caxias do Sul 05/05/2024

Arquivos deletados a patadas

Os privilégios de se ter um auxiliar de escritório movido a sachês
Produzido por Marcos Fernando Kirst, 25/03/2023 às 10:05:14
Foto: Liliane Giordano

MARCOS FERNANDO KIRST

Alguma coisa ele apagou, isso é certo.

Ao retornar da cozinha, onde tinha ido tomar uma água para hidratar o corpo e refrigerar a mente, pronto para retomar as atividades do home office, flagrei-o passeando em cima do teclado do notebook, tentando acessar a fresta da janela pela qual soprava uma brisa redentora dos nossos atuais calores outonais caxienses.

Desfilava sua elegância felina com as quatro delicadas patinhas pressionando teclas aleatórias que, sob seu comando, mandavam para o espaço cyberal algum arquivo ou pasta importante.

Sim, eu vi!

Eu vi a barra verde horizontal explodindo na tela e carregando rapidamente, indicando o ato deletério de deletar alguma coisa. Se estava lá, era porque possuía importância. Caso contrário, eu mesmo já teria deletado o arquivo, ou a pasta, ou a fotografia, ou o documento, seja lá o que for que Mickey, meu office-cat, auxiliar de serviços gerais, decidiu extirpar do desktop, por iniciativa própria.

Sim, ele é um ajudante bastante voluntarioso. Sabe que suas iniciativas lhe rendem deliciosos sachês melequentos que devora com deleite irrefreável. Por isso, é assíduo ao trabalho e procura ser proativo.

Sempre que me dirijo ao meu escritório caseiro (ou “home office”, que é mais muderno e chique, né, madama?) para abrir o notebook, ele já se apresenta ao trabalho, deitando no espaço que decidiu chamar de seu sobre a escrivaninha, ao lado do computador, em cima do bloco de anotações. Via de regra, pega no sono, sob o tilintar contínuo de meus dedos sobre as teclas, que lhe soa como acalanto (mas sabemos que o que o aconchega de fato é o compartilhar da companhia, como fazem todos os gatos).

Às vezes acorda, dá uma miadinha fina, me olha nos olhos endossando seu total respaldo ao desenvolver de minhas tarefas, boceja abrindo ao máximo o bocão composto por quatro dentinhos-agulha (minha canela que o diga), brinca um pouco com a caneta até arremessá-la ao chão, que é seu propósito recorrente, e volta a dormir, ciente de ter cumprido a tarefa de me encher de amor e apoio, o que serve perfeitamente para eu recarregar as energias e seguir adiante com o dia de trabalho.

São as vantagens de se ter um felino como companhia em casa, quando uma parte dela é transformada em escritório (home office, madama, home office).

Em meio a isso tudo, alguma coisa foi deletada...

Descobrirei o que era quando a necessidade pelo dito arquivo se apresentar hoje, amanhã, daqui a uma semana, um mês... Aí o caldo já estará entornado e terei de correr atrás do prejuízo, seja ele qual for, ainda nem imagino.

Enquanto isso, aqui do meu lado, sobre a escrivaninha, um certo orelhudo peludo dorme profundamente e ronrona.

Compensa a perda de qualquer arquivo...

Mickey em ação no home office, monitorando o andamento dos trabalhos (Foto: Silvana Toazza)

Marcos Fernando Kirst é jornalista e editor do portal www.silvanatoazza.com.br

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