A transformação digital está gerando mudanças profundas no setor da saúde, principalmente no que diz respeito à forma como os dados são coletados, geridos e compartilhados.
A utilização estratégica dos dados, por meio da economia de dados na saúde, está se tornando um fator essencial para melhorar a qualidade do atendimento, otimizar os recursos disponíveis e impulsionar a inovação em tratamentos e políticas públicas de saúde. Nesse contexto, a integração dos dados se destaca como um pilar para uma gestão mais eficiente, com impactos diretos na segurança do paciente, na redução de custos e no aprimoramento das práticas clínicas.
No final de 2024, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) uniram forças, formalizando um Acordo de Cooperação Técnica (ACT), que tem como objetivo primordial criar um canal de colaboração robusto, impulsionando iniciativas conjuntas focadas em fortalecer a segurança da informação e disseminar as melhores práticas dentro do setor de saúde.
As ações planejadas abrangem uma variedade de atividades, desde a troca de conhecimento técnico especializado até o apoio na criação de materiais educativos informativos e a promoção de campanhas de conscientização direcionadas ao benefício da população. Além disso, essa parceria estratégica proporcionará um acompanhamento mais eficaz do cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) no setor, o que, por sua vez, contribuirá para a criação de um ambiente com maior segurança jurídica e transparência para todas as partes envolvidas.
A economia de dados refere-se ao uso estratégico e eficiente das informações como um ativo valioso dentro de uma organização ou setor. No contexto da saúde, isso envolve a coleta, armazenamento, análise e compartilhamento de dados de forma que se maximizem os seus benefícios, minimizando custos e desperdícios. Então, não é apenas sobre reunir grandes volumes de informações, mas sobre extrair valor prático desses dados para apoiar decisões mais rápidas e eficazes, otimizar processos e melhorar os resultados de saúde.
A aplicação dessa economia de dados permite, por exemplo, que hospitais e clínicas desenvolvam estratégias para redução de custos operacionais, análise preditiva para melhorar a alocação de recursos e personalização do atendimento com base nas necessidades específicas de cada paciente. Ao mesmo tempo, é essencial que as organizações de saúde garantam que seus sistemas de dados sejam protegidos e acessíveis de maneira eficiente, criando uma infraestrutura que suporte tanto a segurança quanto a utilização de dados.
Os dados de saúde são, sem dúvida, um dos ativos mais valiosos do setor. Sua utilização vai muito além de simples registros médicos, ela envolve a coleta, análise e compartilhamento de informações para gerar insights que podem transformar o cuidado com o paciente, a gestão hospitalar e até as políticas públicas. Então, quando bem integrados, dados clínicos, administrativos e financeiros podem ser usados para melhorar a eficiência do sistema de saúde, reduzindo desperdícios e direcionando melhor os recursos, garantindo um atendimento de saúde mais rápido e eficaz, além de propiciar o desenvolvimento de novos modelos de tratamento.
A análise de grandes volumes de dados pode contribuir para a personalização do atendimento com base no histórico médico e nas necessidades específicas de cada paciente. Além disso, os dados estruturados e não estruturados, quando bem organizados, podem acelerar a pesquisa médica, permitindo descobertas mais rápidas e eficazes, além de otimizar a realização de diagnósticos.
Embora a integração e o compartilhamento de dados na saúde tragam enormes benefícios, também existem desafios que precisam ser enfrentados. A cibersegurança é um dos maiores pontos de preocupação. O aumento no volume de dados de saúde compartilhados digitalmente aumenta a vulnerabilidade a ataques cibernéticos. Por isso, garantir a privacidade dos pacientes e a segurança das informações é uma prioridade que deve ser tratada com rigor, através da implementação de medidas de segurança, como criptografia e autenticação multifatorial.
Outro desafio importante é a padronização dos dados. Para que os sistemas possam se comunicar de forma eficaz, é necessário que os dados sejam armazenados e compartilhados em formatos e protocolos uniformes. A falta de padronização pode resultar em inconsistências, dificultando o uso de dados e impactando a qualidade do atendimento.
Apesar desses desafios, a transformação digital traz oportunidades únicas. O desenvolvimento de tecnologias como inteligência artificial e machine learning oferece soluções para garantir a qualidade e a integridade dos dados. Os algoritmos de IA, por exemplo, podem ser utilizados para detectar erros ou inconsistências nos dados, melhorar o diagnóstico e até ajudar no gerenciamento de recursos. Além disso, a criação de novos padrões de interoperabilidade pode acelerar a troca de informações e ampliar a colaboração entre diferentes sistemas de saúde.
Karlyse Claudino Belli é Head de dados na iHealth.