Caxias do Sul 30/04/2024

Uma nova perspectiva para Caxias: a visão de quem faz a Feira da Maesa

Nesta reportagem exclusiva, expositores, ex-funcionário, feirantes e público compartilham impressões na quarta edição do evento caxiense
Produzido por Luiz Carlos Erbes e Marcos Fernando Kirst, 21/09/2022 às 18:00:01
Uma nova perspectiva para Caxias: a visão de quem faz a Feira da Maesa
Seu Balduíno Aimi, ex-funcionário da Maesa, fez a Visita Guiada no domingo e relembrou os tempos antigos
Foto: Luiz Carlos Erbes

Por Marcos Fernando Kirst (Texto de abertura)

O tempo firme, a temperatura amena e os ares prenunciadores da primavera compuseram os ingredientes do convite irresistível à população sair de casa e transformar em sucesso de público mais uma edição da Feira Cultural da Maesa, que tomou a Rua Plácido de Castro no último domingo (dia 18), na longa extensão defronte ao prédio da antiga Fábrica 2 da Metalúrgica Abramo Eberle S.A. no bairro Exposição, em Caxias do Sul.

Em sua quarta edição (todas realizadas neste ano) e agora integrando o Calendário Oficial de Eventos do município, transformada em instituição municipal por meio de lei aprovada pela Câmara de Vereadores e sancionada pelo prefeito Adiló Didomenico, a Feira Cultural da Maesa foi rapidamente adotada pela população de Caxias do Sul e da região, transformando o terceiro domingo de cada mês em uma data a ser resguardada na agenda.

Além da Feira, que reúne mais de 400 expositores em estandes de atividades variadas como artesanato, economia popular e familiar, antiguidades, artes e gastronomia, o público é brindado, ao longo do dia, com uma gama variada de atrações artístico-culturais que dão uma amostra da diversidade criativa produzida pelos artistas locais.

Realizada pela Associação dos Amigos da Maesa (Amaesa), a Feira Cultural está se tornando um ponto de encontro mensal obrigatório (e prazeroso) da comunidade, que passa a se apropriar de um espaço que, em função do tombamento e doação ao município de Caxias do Sul, está em vias de ser revitalizado por meio de uma PPP (Parceria Público Privada), cujo processo está em andamento.

População já adotou o evento do terceiro domingo de cada mês (Foto: Silvana Toazza)

A cada Feira Cultural, o público conta também com a possibilidade de participar das Visitas Guiadas, que são promovidas dentro do complexo histórico e tombado da antiga fábrica da Maesa. Gratuitas e abertas, as visitações têm tido grande procura por parte da população, proporcionando uma experiência de reaproximação da estrutura com a comunidade.

No último domingo, dia 18 de setembro, o portal de notícias mais uma vez esteve presente no evento, ouvindo algumas pessoas a respeito da importância da Feira e do processo de revitalização da Maesa. Confira os depoimentos:

AS VOZES DE QUEM ESTEVE LÁ

Por Luiz Carlos Erbes (Entrevistas e fotos)

“Se precisar de uma mão, eu venho aqui para ajudar”

Balduíno Aimi, 87 anos, aposentado e ex-metalúrgico que trabalhou por 42 anos na carpintaria da Maesa. Ele foi acompanhado na visita guiada pela filha Joceli Aimi, 61 anos (Foto: Luiz Carlos Erbes)

"Achei um pouco abandonado o lugar, um pouco diferente, mas eu me senti em casa ainda, pois trabalhei muitos anos aqui dentro. Tive de matar a saudade. É importante preservar esse lugar e abrir para visitação, ele não deve ser abandonado. É um prédio de Caxias do Sul, não é nosso. O pessoal que trabalhava na Maesa gostava daqui. Eu gostava daqui, fazia os estojos do faqueiro e me dava com todo mundo. Não pode abandonar nada aqui, tem de preservar, cuidar, principalmente das janelas. A prefeitura tem de fazer mais aqui, está muito parado. Se precisar de uma mão, eu venho aqui para ajudar. Tem muito espaço, tem sala para fazer tudo. Tem de aproveitar isso aqui."

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“O espaço é muito grande, cabe tudo aqui”

Rodrigo Guidana, 32 anos, arquiteto, e Raquel Assunção, 25, estudante, sobre a visita guiada (Foto: Luiz Carlos Erbes)

"Essa visita guiada é muito importante, até para Caxias entender melhor o que foi esse prédio, a importância que ele tem para a cidade, a relevância arquitetônica dele. É um prédio que ainda está restaurável, tem bastante estrutura íntegra. Vai ser um baita espaço para Caxias do Sul assim que ele estiver restaurado de fato, com um mercado público, um espaço cultural, com tudo o que está sendo pensado, com comércio e serviços. O sucesso mostra o quanto Caxias quer que este espaço fique utilizável de novo e não fique abandonado a ponto de virar uma ruína. A gente quer ele vivo. Durante a visita, a gente viu pessoas que trabalharam aqui e como elas se emocionam falando deste lugar.

O que sustenta os espaços são os usos. A gente precisa colocar usos que vão trazer dinheiro, isso é inevitável, senão a gente não mantém o espaço vivo. É importante ter cultura, entretenimento, lazer, mas a gente sabe que tem de pagar a conta. É difícil manter um espaço desse tamanho só com cultura, então, importante é entrar dinheiro, ter empresas trabalhando. Até porque o espaço é muito grande, cabe tudo aqui."

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“É bem bacana a preservação desse espaço”

Lucimara Silochi, 47 anos, e Elúcio Pereira, 50, casal que estava visitando a feira pela primeira vez (Foto: Luiz Carlos Erbes)

"A feira está bem legal, é um espaço bem alternativo que a comunidade pode aproveitar bastante. Está sendo bem produtivo conhecer os produtos. É bem interessante divulgar os artesãos aqui de Caxias do Sul. É mais uma oportunidade que a cidade tem para promover o encontro de pessoas, de achar um produto que você precisa e até para um passeio. Além disso, é bem bacana a preservação desse espaço, e é uma forma de divulgar para os próprios caxienses que não conhecem o lugar e a história da Maesa”.

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“Esse envolvimento dá vida às feiras e à própria Maesa”

Saulo Velasco, 50 anos, professor municipal (Foto: Luiz Carlos Erbes)

"É a quarta vez que estou na feira, e vejo que ela está num crescimento, e avalio isso muito positivamente, até porque está envolvendo vários setores da linha do artesanato e de outras áreas da economia. Esse envolvimento dá vida às feiras e à própria Maesa. No momento em que se ocupa esse espaço, a gente consegue fazer algo para a Maesa não ficar abandonada, e ela não ficando abandonada, chama a atenção do poder público para que seja ocupada de uma forma cultural, de uma forma que o povo possa participar. E também beneficia os empreendedores do artesanato, os feirantes”.

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“É incrível, é uma sensação muito boa”

Nicole Antunes, 22 anos, confeiteira, que estava expondo pela primeira vez (Foto: Luiz Carlos Erbes)

"É uma experiência boa, diferente. É a primeira vez que participo de uma feira. É bom esse formato, ao ar livre, as pessoas vêm para passear, vêm para a feira. É ótimo para nós, que não temos loja, esse espaço para expor o nosso trabalho, mostrar o que temos para vender. É legal que todo mundo se ajuda aqui, como na montagem, e isso faz com que a gente conheça pessoas novas. É incrível, é uma sensação muito boa."

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“Tivemos um bom lucro em várias das edições”

Júlia Daneluz Rech, 21 anos, doceira e estudante, que estava expondo doces ao lado da mãe, Michele Roberta Daneluz (Foto: Luiz Carlos Erbes)

"Até agora, foi muito bom para nós. Tivemos um bom lucro em várias das edições, mas nas últimas, não sei se em função das eleições, a gente teve uma queda nas vendas. Estamos divulgando os nossos produtos, tivemos clientes que nos procuraram e estão comprando. Estou gostando muito, a gente se diverte bastante também. A feira é muito importante para todos poderem divulgar o seu trabalho. É importante também porque, em Caxias, a gente não tem muitos espaços para visitação, a feira cria mais uma oportunidade para pessoas poderem sair de casa, visitar um espaço legal".

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“Se ela já não está igual à da Redenção, ela está muito próxima”

Giovane Rech, 36 anos, proprietário da Wood Future Brasil, especializada em produtos de madeira de alto padrão e expondo desde a primeira edição da feira (Foto: Luiz Carlos Erbes)

"A feira da Maesa tem uma relevância grande para a comunidade, é um evento social no domingo, para trazer a família e para dar a oportunidade ao pequeno artesão, nem todo mundo tem condições de pagar o aluguel de uma loja. Então, esse espaço é bem interessante para incentivar esse pequeno artesão a empreender mais, a vender mais e desenvolver essa economia. De todas as edições, essa está sendo a melhor, em todos os sentidos, em movimento, apesar do feriado, em vendas, em organização. Às vezes, a gente cobra a comissão (organizadora) por melhorias, e esta edição teve melhorias em todos os quesitos: lixo, sanitários, água, organização da chegada. A feira está tomando forma. Se ela já não está igual à da Redenção (feira tradicional de Porto Alegre), ela está muito próxima. Aproveitando esses artesãos, dá para monetizar isso, criar receita líquida para conservar esse patrimônio por meio do seu uso."