Caxias do Sul 07/05/2024

Um visionário inspirado e um projeto inspirador

Parque temático VILLA DEI TRONI começa a tomar forma em Ana Rech, içando do sonho à realidade o projeto do empresário Edson Tomiello
Produzido por Marcos Fernando Kirst, 13/08/2023 às 08:00:36
Um visionário inspirado e um projeto inspirador
Saga da imigração na Serra Gaúcha será contada via imersão em um povoado típico em tamanho real
Foto: Divulgação/Drone/Villa Dei Troni

Por MARCOS FERNANDO KIRST

Pouco a pouco, dia após dia, os sons das batidas dos martelos nas tábuas de madeira e o assentamento dos tijolos vão ecoando ao longe nos morros, se imiscuindo aos ruídos naturais típicos até então intocados da terra nativa que viceja ao redor. Um povoado vai surgindo em ritmo acelerado no coração da região que passa de geração a geração sob a alcunha de Serra Gaúcha, cada construção refletindo uma necessidade vital da comunidade que ali se instala e passa a buscar a concretização de seus sonhos.

Uma capela, uma casa paroquial, uma estrebaria, uma escola, uma bodega, um moinho, uma serraria, uma olaria, uma estrebaria, uma barbearia, um armazém, a casa da nonna, um paradouro com restaurante, pousada e abrigo aos animais e aos viajantes de passagem, tudo convergindo para o coreto da praça central, epicentro tradicional do nascedouro de um povoado erigido pelas mãos calejadas, pelo suor, pela fé e pelo empreendedorismo de famílias de imigrantes que vêm de além-mar se integrar aos esforços de tropeiros e de habitantes nativos, na formação de uma nova colônia.

Entre tantas biografias humanas relevantes, uma mulher em destaque, viúva, que veio com seus sete filhos reconstruir a vida na “Mérica” atrás da “cucagna”, e cujos esforços seriam eternamente homenageados com seu nome batizando uma das localidades mais importantes integrantes de Caxias do Sul, a “Pérola das Colônias”, Anna Rech.

Toda essa saga migratória está sendo reproduzida in loco neste exato momento no localidade caxiense de Ana Rech, a menos de dois quilômetros do centro do bairro, em um verdadeiro canteiro de obras que, em ritmo acelerado, vai dando forma, cor, molde, cheiro e formato à Villa Dei Troni (nome concebido em alusão ao apelido do empresário empreendedor: “Trovão”), o parque temático histórico que resgata de forma original e interativa a saga da colonização italiana na Serra Gaúcha, em especial evocando a criação de Caxias do Sul, o então povoado de Ana Rech e a biografia de sua habitante mais famosa, a imigrante italiana que lhe confere nome.

Fruto do sonho empreendedor e visionário do empresário caxiense Edson Tomiello, a Villa se prepara para transformar o conceito de turismo em Caxias do Sul e na Serra Gaúcha, assim que abrir suas portas ao público, já nos próximos anos, oferecendo aos visitantes uma experiência única de vivência imergindo no cotidiano da saga da colonização, iniciada na Serra Gaúcha em 1875.

UMA COLÔNIA ORIGINAL

DA ÉPOCA DA IMIGRAÇÃO

O fato de ser natural da região de Ana Rech agiu como um dos fatores para Tomiello decidir erigir ali, naquela localidade, o seu projeto turístico temático com restaurantes, hotelaria e atrativos culturais. Mas não foi só isso. “Temos a possibilidade de resgatar a história real da imigrante e pioneira Anna Rech, uma das fundadoras da vila, que aqui chegou há mais de um século, empreendendo e transformando sua modesta casa, sede de seu estabelecimento comercial voltado a atender às necessidades dos tropeiros que por ali passavam, no epicentro da origem e do desenvolvimento da região”, explica o empresário.

Instalações típicas de época vão brotando no empreendimento (Foto: Divulgação/Drone/Villa Dei Troni)

Também foi na área limítrofe do centro do bairro, em pleno século XXI, que Edson Tomiello deparou com a propriedade na qual hoje constrói a Villa, um precioso lote colonial situado na área urbana, ainda em seu formato original. “Aqui temos uma colônia da época da imigração, comprada diretamente do Brasil Império, mantida no seu formato original, com escritura e tudo, sem que tenha sido desmembrada em seus 25 hectares. Ela foi adquirida pela família de imigrantes Andreolla no final do século XIX, foi sempre mantida com eles de geração a geração, até ser comprada agora por mim, para a concretização deste projeto”, explica Tomiello.

UM RESGATE

DAS RAÍZES FAMILIARES

Edson afirma que descobriu o local quase que por acaso. “Eu passava sempre na frente dessa área, localizada a apenas 1,5 km da Igreja Matriz de Ana Rech. Certo dia, vi que havia um projeto para vender a colônia, transformá-la em um loteamento urbano. Quando visitei o local, descobri que o porão da casa da sede da colônia havia sido construído pelo meu nonno, em 1931, quando ele tinha 26 anos de idade. Ele morava em frente à colônia dos Andreolla e decidiu construir o porão da casa deles, para mostrar aos padres de Ana Rech que ele tinha condições de prestar serviços à igreja”, relata. Os Tomiello, que eram pedreiros, estavam se habilitando a atender às demandas da Igreja e precisavam mostrar serviço.

“Quando vi isso, pensei: vou comprar a propriedade e vou fazer nela algo que mantenha a memória dos nonnos e fique para a comunidade. Esse porão é uma relíquia da arquitetura italiana na região. Tenho uma ligação pessoal familiar com essa colônia, com esse porão”, explica Edson. A colônia em que está sendo construída a Villa Dei Troni possui parreirais antigos, cachoeiras, pinheiros, arroios... “Os galpões das vacas e mulas também têm cerca de 130 anos, são construções antigas. A colônia ficou original, com pouca interferência humana. O pouco da mata nativa cortada foi para plantar trigo, fazer os parreirais e as construções”, exemplifica o atual proprietário, sempre determinado a resgatar suas raízes e manter viva a história.

“Meu nonno, Joanim Tomiello, era pedreiro, nascido aqui em Ana Rech, na propriedade da nossa família, defronte à colônia dos Andreolla. Era pedreiro e depois montou uma olaria do outro lado da rua. Ele vendeu a olaria aos funcionários na metade da década de 1930. Quase 100 anos depois, eu compro de volta a olaria, desmancho a casa, que já estava em estado avançado de decomposição, e, com as pedras, faço o piso da igreja aqui da Villa Dei Troni. São tijolos que meu avô fez a mão”, relembra o descendente.

“Aqui estamos a uma distância de apenas uns 500 metros da antiga rota dos tropeiros, que passavam por onde hoje é o centro de Ana Rech. Isso me levou a tomar a decisão de manter toda essa riqueza natural e histórica para a comunidade. É um projeto de importância significativa para Ana Rech e para a cidade de Caxias do Sul. Marca a retomada do turismo na região de Caxias. E marca a história real dos imigrantes. Teremos aqui turismo focado na história real, como era a jornada de nossos nonnos e nonnas, como os imigrantes chegaram da Itália, se estabeleceram e ficaram. Não se trata de um museu, mas sim de um parque temático vivo, que terá vida própria da operação típica da colônia”, discorre Tomiello.

“Faço isso para homenagear todos os nonnos e nonnas, todos os imigrantes que vieram para a Serra Gaúcha e construíram Ana Rech e Caxias do Sul. É uma forma de expressar meu agradecimento a tudo o que essa região me deu ao longo da minha vida. Uma retribuição. Fico feliz e realizado em poder deixar para a cidade este projeto. Nosso conceito de turismo é de que o parque precisa falar da nossa cultura, da nossa identidade, em todos os aspectos que evoquem a cultura e os hábitos dos imigrantes. Resgatar o ambiente, o sentimento que eles vivenciavam no dia a dia. Queremos deixar para as próximas gerações a percepção de como era a vida naquela época. As vestimentas, a religiosidade, a culinária, os ofícios etc", revela o empreendedor.

Área do tamanho de uma colônia do tempo do Império está sendo usada para o resgate da história (Foto: Divulgação/Drone/Villa Dei Troni)

"O que me levou a decidir fazer esse investimento, ao lado da paixão que cultivo pela história e pela cultura, é a minha percepção de que empreender em turismo é contar a nossa história real, como começamos, como foi a jornada dos imigrantes italianos há 150 anos. Estamos aqui, na Villa, reproduzindo uma colônia tipicamente italiana. Com este projeto, pretendemos mostrar como foi a jornada de todos os imigrantes”, discorre o empresário.

DA CASA DO NONNO

À VILLA DEI TRONI

Edson Antonio Tomiello nasceu em 4 de março de 1960 em Ana Rech, Caxias do Sul, Serra Gaúcha, Rio Grande do Sul. Filho de Nadir (pedreiro) e Irema (do lar e costureira) Tomiello. Entre os seis filhos do casal, Edson é o segundo mais velho.

Estudou os então primeiro e segundo graus (hoje ensinos fundamental e médio) nos colégios Murialdo, em Ana Rech, e Carmo, em Caxias do Sul. Na sequência, cursou Administração de Empresas na Universidade de Caxias do Sul, de 1980 a 1987, quando se formou. Começou a atividade profissional ajudando seu pai nas obras, como servente de pedreiro, dos 15 aos 19 anos, quando ingressou no serviço militar, formando-se oficial da reserva.

Em 1980, quando a empresa Marcopolo se transferiu para Ana Rech, procurou uma vaga na empresa e ingressou no setor do Almoxarifado em agosto daquele ano, fazendo uma carreira de sucesso. “Segui lá dentro uma carreira interna meteórica, durante 12 anos. Passei por várias funções e cheguei a chefe de departamento, quando saí e montei a empresa San Marino Indústria Metalúrgica, em 1992, também com sede em Ana Rech. Depois fiquei alguns anos trabalhando em um serviço automotivo de peças e componentes, vendendo peças para montadoras. Em 1998, eu fornecia componentes para ônibus e resolvi comprar uma marca e fabricar ônibus, montando a empresa Neobus. Fiquei com a empresa até 2017, quando transferi o controle acionário para a Marcopolo e permaneci de acionista da Marcopolo e da Neobus”, resume Tomiello.

“Mas a relação com o passado e com a saga dos imigrantes sempre esteve presente em minha alma. Em 2007, como eu tinha a empresa de ônibus, sempre recebendo na Neobus muitos visitantes que vinham de fora para fazer negócios, tomei a decisão de construir, dentro da própria empresa, uma casa de pedra, a Casa do Nonno. Comprei alguns componentes, madeira antiga, para homenagear os meus nonos e meus pais, e ergui lá uma típica casa de pedra dos imigrantes, o que encantava os visitantes.

Passados 15 anos depois de eu construir a Casa do Nonno, quis o destino que eu encontrasse aqui, na colônia, uma casa de pedra original, genuína, que meu próprio nonno havia construído, sem que eu soubesse, até então, de sua existência. Claro que adquiri a propriedade, em fevereiro de 2020, e dei início imediato ao projeto da Villa Dei Troni”, rememora Tomiello, que afirma ter despertado mesmo para o resgate das questões da cultura e da história no período da Neobus. “As pessoas adoravam vir à empresa e ficar na Casa do Nonno para fazer negócios, comer um galetinho, uma polenta, observando as parreiras que eu plantei lá. Fiz muitos negócios ali naquele ambiente descontraído e acolhedor. Aquilo foi uma inspiração para depois fazer a Villa, foi a semente para a Villa Dei Troni”, conclui.

UM LEGADO PARA

A REGIÃO E PARA O FUTURO

“Eu não queria adquirir a colônia, passar o trator e construir lotes aqui”, sentencia Edson Tomiello.

“Decidi fazer no local um projeto turístico voltado ao resgate da história real. Fico feliz em deixar este legado para Caxias do Sul, com a recriação, em ambiente natural, das primeiras colônias que moldaram a região. Tudo isso aqui, em uma colônia original, intacta, com os pinheirais, os arroios, as casas, os parreirais. Só o que peço à cidade é que prestigiem o projeto, com tudo aquilo que ele terá para oferecer. Será acessível para todas as pessoas.

A ideia é oferecer um presente à cidade. Deixar um legado em termos de cultura e resgate histórico. Tenho detectado, nas pessoas que visitam o projeto, a existência de uma nostalgia que eu quero estimular e deixar viva aqui na Villa. Que as pessoas possam vir aqui e sentir essa mesma emoção. Todos nós, no fim das contas, devemos nossas origens à roça, à colônia. O turista tem de vir aqui e se identificar com o passado, a partir da experiência que ele vivenciar aqui, com as apresentações, as encenações, a gastronomia, a visita interativa às construções, em um complexo turístico, cultural e harmônico pensado para deixar uma mensagem educativa aos visitantes”, explica o empreendedor.

O empresário Edson Tomiello (D) esmiuçando o projeto a este repórter (Foto: César Nascimento)

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