Caxias do Sul 04/05/2024

Um livro que é um museu

Obra resgata a memória dos pracinhas caxienses que combateram na II Guerra Mundial
Produzido por José Clemente Pozenato, 07/12/2023 às 09:29:39
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”
Foto: Marcos Fernando Kirst

Acaba de vir à tona, vindo da profundeza das memórias da II Guerra Mundial, tal como vivida em Caxias do Sul, um livro que já é por si só um museu. Seu título é de cunho intencionalmente didático, e por isso mais longo que de costume:

MUSEU DOS EX-COMBATENTES

DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA

NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

(CAXIAS DO SUL):

HISTÓRIA E MEMÓRIAS

A obra foi organizada pela pesquisadora Rosana Peccini, autora de outra obra importante para a história da cidade, A Invenção da Galeteria, que levou ao reconhecimento do Galeto al Primo Canto como patrimônio cultural imaterial de Caxias do Sul.

Neste livro-museu estão relatos de pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, a FEB, e de seus familiares, junto com artigos reconstituindo a história com base em pesquisas, além de cópia de documentos e de notícias e muitas fotografias. Com todo esse material, é possível ter-se uma visão cheia de detalhes e de grande força emotiva.

Quando escrevi o romance A Babilônia, que tem seu foco principal no conflito de ideologias, de direita e de esquerda, no período entre as duas guerras mundiais, não cheguei ao ponto de mostrar a repercussão da II Guerra dentro da então pequena cidade de Caxias do Sul. Não deixa de ter um forte teor dramático o fato de uma cidade fundada por imigrantes italianos, onde foi proibida a língua que trouxeram e continuavam a falar, ter fornecido soldados para lutarem dentro da Itália contra nazistas e fascistas.

Um teor dramático que esta publicação, patrocinada pela Prefeitura, deixa bem encenado. Esse episódio começou a ser registrado e resgatado ainda em 1946, na primeira tentativa de criar uma associação dos ex-combatentes de Caxias do Sul. Após diversas tentativas, acabou sendo fundado o Museu dos Ex-Combatentes da FEB na II Guerra Mundial, que ganhou sede própria em 1975, em lei aprovada pelo então Prefeito Municipal Mario David Vanin.

Depois de mais de duzentas páginas, o livro-museu fecha com outra preciosidade na contracapa: é a Canção do Expedicionário, cuja letra foi composta pelo poeta paulista Guilherme de Almeida, um dos mentores da Semana de Arte Moderna. Ainda tenho na memória os versos iniciais que aprendi ainda menino, na escola:

Você sabe de onde eu venho?

Venho do morro, do Engenho,

Das selvas, dos cafezais,

De boa terra do coco,

Da choupana onde um é pouco,

Dois é bom, três é demais.

Venho das praias sedosas,

Das montanhas alterosas,

Do pampa, do seringal.

Como se informa numa das páginas de rosto, “Este livro não pode ser comercializado, pois destina-se à distribuição para escolas”. Exatamente onde deve começar o cultivo da memória do passado.

Publicada pela Educs, a obra pode ser acessada em download no site da Editora.

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

Do mesmo autor, leia outro texto AQUI