Caxias do Sul 18/05/2024

Ser bom ou ser justo

Cuidar, acolher, aconchegar é diferente de fazer pelo outro
Produzido por Neusa Picolli Fante, 12/10/2022 às 09:06:15
Foto: Morgane Coloda

Hoje vamos refletir sobre o bonzinho demais, aquele que não deixa ninguém sentir falta de nada, só dele. Aquele que acredita que coordena o universo, que controla o outro com a sua disponibilidade sem limites.

Penso que é como a mãe que não deixa o filho adolescente nem amarrar o sapato, que se antecipa e corre na frente de tudo que ele faz, para que não sinta frustração alguma. E aí vemos os bebezões de dois metros de altura andando sem saber para onde ir...

Existe uma grande diferença entre ser bom ou ser justo com as pessoas de nosso convívio.

Bonzinho demais é como a mãe que citamos acima. Nada a favor dos pais, também conheço alguns pais que são bonzinhos demais, até mais que as mães...

Será que é bom ter tudo? Quem tem tudo desenvolve a força de ir em direção aos seus sonhos, mas será que ao menos consegue ter sonhos?

Seja em casa ou na empresa, o bonzinho está lá... ele não faz o seu trabalho, está muito preocupado em ser bonzinho demais. E, assim, vai agradando a todos, temporariamente, menos a quem importa.

Cuidar, acolher, aconchegar é diferente de fazer pelo outro, de não permitir que ele aprenda com os próprios recursos.

Qual a diferença entre ser bom, ser justo ou ser mau? Ser bom demais e ser mau são opostos, ambos nocivos. Quem é bonzinho demais não ajuda as pessoas a crescerem, pelo contrário, as prejudica, impedindo que encontrem por si próprias o seu lugar.

Ele está ali, aqui, em todo lugar, assumindo uma máscara que não lhe pertence, e não tem consciência do quanto ela pesa para ele, e é prejudicial para o outro. Criar condições de ir ao encontro dele mesmo é um grande desafio.

A sociedade o aplaude. Será? Será que todos aplaudem? Ele ajuda ou atrapalha a evolução da humanidade?

Dar colo num momento difícil é diferente de criar uma codependência. Impedir o outro de fazer por si, de aprender, é anular o outro...

É como se ele passasse a mão na cabeça de quem erra, de quem se perde, de quem espera o outro fazer e dissesse: Eu estou aqui para pensar e fazer por você, continua fazendo o que você faz...

Quem aprende, quem cresce? Nenhum dos dois. Precisa-se de esforço, inclusive para deixar o outro fazer por si próprio.

Existe o fazer tudo pelo outro e o não fazer nada também. Qual é o equilíbrio? Você já encontrou?

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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