Pais, mães e filhos vivem situações difíceis. Se juntam, se distanciam, se cuidam e também podem se perder um do outro.
Perdas se impõem sem que se possa fugir delas. Aprender a lidar com elas é o grande desafio para crianças e principalmente para adultos, que são o espelho dos filhos.
Adultos querem proteger os pequenos das dificuldades, do dia a dia, mas a vida não para. Intromissões se impõem o tempo todo. Se acumulam. Nos arrastam para conhecer sentimentos não imaginados e nem planejados.
Bia via a mãe triste e se entristecia também.
Nico se sentia responsável por cuidar dos adultos, fazê-los rir era sua meta.
Nena fazia o que ninguém queria fazer. Pediam a ela e ela fazia. Cobrava contas da mãe com 8 anos de idade.
Quando adultos, continuaram a se sentir os responsáveis. Bia, de não deixar ninguém triste; Nico, de fazer as pessoas rirem; Nena não gostava de cobrar contas, não aprendeu do jeito certo. Continuavam achando que deveriam fazer mais, cuidar. Mas como não iriam, se foi assim que aprenderam?
Uma coisa é fato: criança sofre em silêncio para não entristecer os adultos por ela amados e que estão próximos.
Questiono: o que os genitores e cuidadores fazem para não entristecer as crianças? Dão tudo o que elas solicitam, tornam elas dependentes, mimadas e carentes? Ou, então, assumem um lugar oposto, fingem que elas nem estão ali. Ele é bonzinho, então, fica no esquecimento. Onde estão a direção, o limite? Por isso, mesmo depois de adulto, procura construção.
Quem vai ser o adulto saudável da relação? Sabe aquele que empurra pra vida, para crescer e se desenvolver?
Como ele vai se estruturar se aquele em quem mais confia lhe oferece pouco incentivo para seguir?
Quando acontece algo difícil, a criança cola no adulto. Se o adulto tiver recursos para lidar bem com a situação, a criança também vai construir positivamente o que ocorreu. Caso contrário, o adulto se perde e a criança fica em sofrimento sem saber como seguir.
Adultos, instruí-vos! Vocês são os bons ventos quando tudo parece ou está difícil. As crianças vão grudar em vocês até o temporal passar, até tudo se acalmar. Depois, voltam para o seu lugar, para sua vida com os aprendizados daquela situação.
Na tentativa de encontrar um novo lugar com lembranças boas, para que a vida emocional se fortaleça, assim permanecem muitos que viveram o obscuro.
Raul na vida adulta disse: “Eu só quero um pai”. Sejam pais quando seus filhos forem crianças! Assim, eles não precisaram de um pai presente o tempo todo na idade adulta. Não esperem para quando a vida já levou para longe quem descobriram que amam...
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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