Caxias do Sul 16/04/2024

Rigidez muscular e diagnóstico precoce em crianças

A doença pode provocar deformidades ortopédicas que seriam evitadas com o tratamento adequado na fase inicial
Produzido por Thiago Hoesker , 08/10/2020 às 13:15:37
Foto: Fabio Grison

Entre as doenças observadas em pacientes que apresentam algum tipo de acometimento neurológico, as manifestações clínicas podem ser as mais diversas. No entanto, as alterações da contração na musculatura, da postura e consequentemente da execução de movimentos são decorrentes dos danos causados ao cérebro ainda em desenvolvimento. Quando a musculatura fica tão rígida a ponto de interferir em tarefas simples do cotidiano, como sentar, caminhar e, até mesmo, se alimentar ou executar a higiene, chamamos essa rigidez muscular de Espasticidade.

Do ponto de vista de funcionamento do organismo, a doença consiste no aumento anormal do tônus muscular, em decorrência da falta de inibição do sistema nervoso, após alguma lesão. Manifestações clínicas são observadas frequentemente em crianças com paralisia cerebral, pacientes com traumatismo cranioencefálico e/ou raquimedular. A espasticidade, em especial em crianças e adolescentes, é capaz de provocar alterações no desenvolvimento do esqueleto, que resultam em atraso do crescimento e até mesmo em deformidades nas articulações.

O tratamento adequado é complexo e requer o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar composta, inicialmente, por um grupo heterogêneo de profissionais capacitados, em que cada um atue em uma área específica. O fisioterapeuta e o neurocirurgião pediátrico devem integrar o quadro para avaliar e oferecer o cuidado especializado, com o objetivo de proporcionar os melhores resultados possíveis neste cenário tão delicado.

O aumento da rigidez muscular, se não diagnosticado precocemente, pode interferir no aprendizado do ato de caminhar, o que muitas vezes provoca o distanciamento da criança do seu ambiente natural, visto que ela não consegue acompanhar as atividades propostas para a sua idade. É fundamental salientar que a doença pode provocar alterações definitivas, como deformidades ortopédicas, que poderiam ser evitadas com o tratamento adequado na fase inicial.

A integração das áreas da saúde é fundamental para que o progresso no tratamento seja obtido, buscando a evolução neurológica, o bem-estar e principalmente gerando a possibilidade de inclusão social. Vale lembrar que muitos problemas dessa magnitude não possuem cura. No entanto, permitir que os pacientes recebam tratamento adequado é questão de humanidade e responsabilidade social.

*Thiago Hoesker é médico neurocirurgião com especialização em Neurocirurgia Pediátrica - Clinical Fellowship, pelo Departamento de Neurocirurgia Pediátrica da Universidade Acibadem, em Istambul, na Turquia.