A pandemia do novo coronavírus e a preocupação crescente das pessoas com a sua saúde e, principalmente, com a prevenção, está impulsionando um novo conceito de cuidados com a saúde – que alia inteligência artificial e medicina preditiva, preventiva e curativa – que, apesar de ser amplamente aplicado em diversos países desenvolvidos, é pouco conhecido ou difundido no Brasil.
Enquanto no país os médicos de formação generalista, como clínico geral e o médico de família, são pouco valorizados, no Reino Unido esses profissionais, chamados de general practitioners (GP), são o eixo central do atendimento. No sistema britânico, o paciente não marca atendimento com médicos especializados de acordo com seu problema, como cardiologista, endocrinologista. Ele primeiro passa pelo GP, que corresponde ao médico de família brasileiro, que decide se o paciente deve ou não ser encaminhado, para qual especialista e quais exames precisa realizar.
Esse conceito é a Atenção Primária à Saúde (APS), quem tem como objetivo cuidar das pessoas, em vez de apenas tratar doenças ou condições específicas, proporcionando a elevação da qualidade da atenção ao usuário de todo o sistema de saúde, inclusive de planos de saúde suplementares de operadoras e empresas, favorecendo a gestão do cuidado e o foco nos pacientes, além de tornar mais rápido e eficiente o atendimento das demandas de saúde, com redução de gastos da ordem de R$ 39 bilhões para todo o segmento brasileiro de saúde.
Desde dezembro de 2018, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) instituiu o Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde, para estimular a qualificação, o fortalecimento e a reorganização da atenção primária, que deve ser o primeiro ponto de contato do usuário ao sistema.
Segundo dados da própria ANS, a Atenção Primária à Saúde bem estruturada reduz em 51% o volume de consultas, 27% o número de internações e 27% a quantidade de exames, o que proporciona a economia de 25% do total de R$ 160 bilhões que o setor movimenta por ano.
A APS tem papel fundamental para a mudança no modelo brasileiro tradicional de atendimento à saúde que, de uma forma geral, é curativo, em que o paciente busca atendimento somente quando apresenta sintomas e, geralmente, as doenças são diagnosticadas em estágios avançados, não tendo como foco a prevenção e a promoção de saúde, diagnóstico precoce, tratamento e reabilitação. No fim, com o modelo atual, pagamos mais caro, gastamos mais tempo com consultas e fazemos exames que em muitos casos são desnecessários.
Em média, 80% dos problemas podem ser solucionados sem a necessidade da consulta com um especialista. Isso não apenas reduz os gastos excessivos, democratizando o acesso ao sistema de saúde, como também favorece melhores desfechos clínicos, sendo favorável mesmo para aqueles que possuem planos de saúde suplementar/particular, fazendo com que “percam” menos tempo nas filas de espera para atendimentos - que muitas vezes não são necessários - e não precise gastar com consultas em médicos particulares, uma vez que, a cada dia, menos aceitam planos de saúde e os planos de saúde, por sua vez, ressarcem menos os atendimentos externos.
Isso reduz a incidência de demandas na média e alta complexidade, permitindo ao beneficiário dos planos de saúde, inclusive, negociar a redução dos custos do seu plano, em razão da significativa redução da sinistralidade.
Benefícios e vantagens da Atenção Primária à Saúde
Redução nas despesas de saúde com direcionamento preciso.
Evita consultas, exames e automedicação desnecessários.
Protocolos preparados para cobertura e atenção em até 80% dos problemas de saúde.
Educação e mudança no modelo de saúde com foco na prevenção e na promoção de saúde, com educação e aculturamento das práticas saudáveis.
Danielle Vaisman, médica Clínica Geral da Pleni Cuidados
