Caxias do Sul 19/05/2024

Nanico na Cocanha (Final)

Em que nosso herói enfim encontra a almejada Cocanha, que o fez empreender a suma saga aqui relatada
Produzido por Paulo Damin, 12/04/2024 às 08:12:55
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul
Foto: ARQUIVO PESSOAL

No capítulo anterior, o Nanico chegou numa praia perto do País da Cocanha, comeu as placas indicativas e ficou sem saber pra onde ir. Então ele viu aquele bando de urubu.

– Sabem pra que lado fica a Cocanha?

– Óbvio – disseram.

E levaram o Nanico pelo cangote. No caminho, iam explicando. Por exemplo, que eles tinham ido na praia arrumar as placas:

– Elas precisam ser refeitas a cada cinco minutos, tem sempre um passarinho que passa comendo as letras, as setas…

Chegaram voando no centrinho da Cocanha. Ali tinha uns chafarizes de água, de leite e, evidentemente, de vinho. Bem no meio da praça. E macieiras, cerejeiras, bergamoteiras, todas com fruta o tempo todo. O que caía no chão era logo devorado pelos tatus.

– Mmm… tatu… – fez o Nanico, recordando os hábitos das Grotas.

Os urubus pousaram o Nanico como as cegonhas pousam os bebezinhos no colo da mamãe. A mamãe, no caso, era uma cama king size dessas que, em vez de ter pezinhos, é formada por dois colchões um em cima do outro, daí não faz barulho quando o cara faz, digamos, alongamentos em cima dela. O Nanico ficou deitado ali, comendo umas nêsperas que ele alcançava preguiçoso com o braço.

Veio uma turma conversar com ele. Pareciam pessoas normais, era até estranho, usavam camiseta de banda, calça, tênis.

– Curtindo a Cocanha? – uma guria perguntou – A gente tá indo no show dos Beatles, quer ir?

O Nanico não era muito fã dessas coisas, mas ficou pensando que, se tinha show de rock, devia ter também uns baile bão por ali.

– Sabe quando vêm Os Atuais? – ele perguntou na CIC, a Central de Informações da Cocanha.

Não estava previsto um baile com essa incansável bandinha mas, já que o cidadão Nanico Pipetta estava solicitando, o País da Cocanha organizou um bailão pra ele.

Tudo muito bem. Vinho e lasanha todo dia. As pessoas o cumprimentavam. Chovia quando ele pensava que as plantas precisavam de chuva. Esquentava quando ele pensava que queria pegar um bronze…

O Nanico ia pelas calçadas declamando Trilussa:

Tem uma abeia que posa

sobre um botão de rosa:

suga ele e se vai…

No fim das contas, a felicidade

é uma pequena cosa.

E o Nanico viveu feliz até o dia em que sentiu saudade de ficar triste.

Aí achou um dia nublado, desses típicos das Grotas, e ficou vendo a cerração baixar.

Que também com melancolia se faz uma Cocanha.

Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.

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