Caxias do Sul 13/10/2025

IA no Direito: entre o fascínio e a prudência

A tecnologia pode ser usada como aliada, mas jamais vai suplantar a inteligência crítica
Produzido por Ciane Meneguzzi Pistorello , 24/09/2025 às 08:34:32
Ciane Meneguzzi Pistorello é advogada
Foto: Luizinho Bebber

Outro dia me peguei pensando: até onde vamos terceirizar o pensamento? A inteligência artificial já redige contratos, elabora pareceres, resume processos inteiros em minutos. É sedutora. Mas o que realmente me intriga é a confiança quase ingênua com que muitos depositam suas decisões mais delicadas nas mãos de uma máquina que não sente, não interpreta e não conhece os bastidores de uma negociação.

A IA é veloz. Responde em segundos, cria textos envolventes e até parece compreender nuances. Mas o empresário atento sabe que a vida real não cabe em fórmulas prontas. Porque uma cláusula pode mudar o futuro de uma sociedade; um detalhe esquecido pode transformar uma parceria em litígio; um silêncio numa reunião pode revelar mais que dez páginas de contrato. E nenhuma dessas sutilezas está ao alcance de um algoritmo.

No fundo, a máquina é como aquele estagiário genial que chega cheio de entusiasmo. Brilha em algumas tarefas, mas, se não houver supervisão, entrega um trabalho impecável… até você perceber que citou uma lei que nunca existiu. No Direito, erros assim não são meras distrações: são riscos sérios, capazes de custar caro a qualquer empresa.

Não se trata de rejeitar a tecnologia. Pelo contrário. Ela pode — e deve — ser usada como aliada. Organiza, agiliza, compila informações que antes demandariam dias de pesquisa. Permite que o raciocínio humano se concentre no que realmente importa: estratégia, interpretação, decisão. Mas é preciso lembrar que inteligência artificial não substitui inteligência crítica. E no mundo empresarial, essa é a diferença entre crescer com segurança ou tropeçar em armadilhas invisíveis.

A IA abre portas, é verdade. Só que nem todas as portas devem ser atravessadas. Cabe a quem compreende o Direito, a lógica dos negócios e a complexidade das relações humanas indicar o caminho certo. Porque máquina nenhuma percebe a hesitação no olhar de um sócio, a rigidez de uma postura em negociação ou a fragilidade escondida numa cláusula aparentemente inofensiva.

Talvez o maior equívoco seja imaginar que o futuro será da tecnologia ou do advogado. O futuro será de quem souber unir os dois. A IA como ferramenta; o advogado como guardião. E o empresário que entende isso não apenas protege o presente da sua empresa, mas também garante que o amanhã não será decidido por linhas de código, e sim por escolhas conscientes.

Ciane Meneguzzi Pistorello é advogada, com pós-graduação em Direito Previdenciário, Direito do Trabalho e Direito Digital. Presta consultoria para empresas no ramo do direito do trabalho e direito digital. É coordenadora do Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em MBA em Gestão de Previdência Privada – Fundos de Pensão, do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG.

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