Caxias do Sul 05/05/2024

Hora de subir para respirar

Deixar a dor ventilar é nutrir-se de vida para poder seguir adiante
Produzido por Neusa Picolli Fante, 30/09/2023 às 08:55:26
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica
Foto: Morgane Coloda

Às vezes a dor toma conta, nos sentimos sufocados pelas dificuldades, não sabendo como nos direcionar e nem como agir. É nesse momento que é a hora de parar para respirar.

Você para pra respirar quando a vida está difícil?

Parar para respirar é amenizar a dor sentida, é acalmar o coração, é tentar, mais uma vez, redirecionar-se, é aliviar a jornada para poder seguir.

Deixar a dor ventilar é nutrir-se de vida para poder seguir adiante, é parar e olhar para tudo que está sendo vivido; mas, acima de tudo, é organizar uma coisa por vez, é não se atropelar na dor sentida, mas, sim, permitir-se decidir com tranquilidade, com coerência, com discernimento o caminho que se deve seguir.

Tudo isso sem deixar de lembrar de que não somos donos da verdade e também que as coisas não se decidem de uma hora para outra. Devemos dançar conforme o ritmo que está sendo executado, porém, no meio disso tudo, dar um tempo para se vitalizar.

Parar para respirar é se respeitar, é seguir seu próprio ritmo, é não se afogar na dor, é ter o controle das mazelas sentidas, é tomar ar quando se está sem fôlego, é não se atropelar.

Quando a dor toma conta, quando a vida está difícil, quando é hora de repensar, de decidir algo, é hora de emergir pra respirar, é hora de encher os pulmões de ar, hora de discernimento, de direção, de recuperar a vida, de seguir sem pressão e, acima de tudo, é hora de se resgatar.

Às vezes nos sentimos como se estivéssemos no fundo do mar, sem ar, quase nos afogando. É nesse momento que precisamos parar e voltar à superfície e respirar pra não morrer, para não sucumbir sem ar.

Imagine-se mergulhando num oceano de incertezas, sem oxigênio e numa profundidade muito extensa, procurando algo, tentando encontrar saídas! É ali, na dor profunda e na atrapalhação em que se vê envolvida, na irritação que toma conta, na agressividade que cresce, que se necessita encontrar o discernimento, ou seja, no emaranhamento de sentimentos, que dificultam nossa capacidade de acuidade, é imprescindível decidir.

Cada um sabe o seu momento de parar pra respirar para se nutrir de vida. Embora alguns não olhem os sinais, os que não compreendem, aprendem por meio de duras lições.

Escolhas difíceis fazem parte dos nossos dias. No meio disso tudo, respirar é a fonte da vida, da integração, da qualidade dos passos.

Diante de desilusões, de perder o controle, de dores sentidas, de aprendizados que necessitam ser construídos, respirar e se acalmar é a direção.

Quando não alcançamos a fé, quando necessitamos de entendimento, quando precisamos ouvir mais do que falar, quando não conseguimos encontrar o valor que temos, quando precisamos resgatar a vida, quando não nos sentimos entendidos e acolhidos, devemos parar pra respirar.

No aguentar firme, no seguir em frente, também há nutrição. Temos de olhar para dentro de nós mesmos, temos de nos cuidar, temos de parar pra respirar.

Estou afundando, tudo está difícil, opa! É hora de vir à tona pra respirar, isso é deixar a dor ventilar.

Pare para respirar quantas vezes forem necessárias. Nada está dando certo, não consegue ver saídas, está cansado, desgastado? PARE PRA RESPIRAR.

Dance a dança que está acontecendo, mas, no meio disso tudo, pare pra se reenergizar.

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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