Caxias do Sul 22/11/2025

Fazer diferente

O que eu faço com o que sinto é a capacidade de transcender, de me acolher ou de me encolher
Produzido por Neusa Picolli Fante, 20/11/2025 às 09:49:05
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas
Foto: Morgane Coloda/Divulgação

Arriscar-se no novo e no desconhecido é ter a oportunidade de fazer diferente. Será? Ou, fazer diferente é avaliar o que foi vivido e continuar de onde você estava, mas de uma outra maneira? Agregando todos os aprendizados que absorvem o hoje e o ontem. Seria se direcionar para o amanhã mais inteiro, com mais confiança, com mais tranquilidade, com mais propriedade.

Ele adaptava a sua necessidade ao que o outro concordava ou não. Vivia o pensamento do outro na sua vida.

Lá pelas tantas, invadido pela necessidade de se escutar e de se respeitar, começou a trilhar um novo caminho mais autêntico, mais sereno, desafiador para quem estava acostumado a andar nos passos do outro. Usou a voz e a sua palavra como desatadora de nós e assim foi seguindo.

Perseguia a lucidez numa lacuna que nem sabia direito por onde andar e nem compreendia a que se referia. Mas acreditava que algo precisava ser olhado. Estava disposto a olhar.

Identificava quando estava saindo fora dos trilhos, como ele mesmo relatava. Quando perdia a luz e quando a escuta de si não tinha mais endereço dentro dele. Era nesse momento que saía a se procurar, ou melhor, entrava dentro de si para se resgatar.

“Como teria sido a vida dele se eu não tivesse lá?” – dizia aquele senhor. “Como ele seria se eu não atravessasse a vida dele? Se eu não lhe dissesse ‘estou contigo’? Se eu não tivesse dado apoio? Me mostrado presente nos seus dias, como ele se sentiria? E eu proponho: Como saber? Como redefinir aquele ser modificando as premissas? Talvez fosse melhor, talvez pior”. Sem saber, seguiu a se olhar.

Só assim ele se fortaleceu e enxergou como atravessar aquela ponte. Contava das suas lutas e por que doeu. Foi, aos poucos, descobrindo novas maneiras de lidar com a raiva e com os sentimentos confusos que vinham ao seu encontro. Era nesse momento que se acolhia e, consequentemente, se fortalecia.

Nossa vida visita o medo e o amor constantemente. O que eu faço com o que sinto é a capacidade de transcender, de me acolher ou de me encolher.

Que eu escolha dar a mão para o medo e siga fazendo escolhas.

O fato é que existem presenças importantes na nossa vida que nos dão apoio, nos incentivam; que, ao mesmo tempo, mostram que não estamos sozinhos e autorizam para que façamos as nossas escolhas. Essas são as mais significativas na nossa jornada.

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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