Caxias do Sul 04/05/2024

Cansioniero Popolar – Volume III

Obra tem como foco celebrar o sesquicentenário da Imigração Italiana
Produzido por José Clemente Pozenato, 31/08/2023 às 13:38:22
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”
Foto: Marcos Fernando Kirst

Nesta semana, foi lançado pela EDUCS (Editora da Universidade de Caxias do Sul) o terceiro volume do Cansioniero Popolar (Cancioneiro Popular).

Trata-se de um projeto que visa celebrar o sesquicentenário da Imigração Italiana com a publicação do riquíssimo acervo de canções trazidas pelos italianos e registradas, em fitas gravadas, pelo Projeto ECIRS (Elementos Culturais da Imigração Italiana no Nordeste do Rio Grande do Sul), ao longo das décadas de 1980 e 1990. Está prevista a edição de cinco volumes, trazendo a público um acervo de mais de quatrocentos cantos populares.

A coleta de registro em áudio de cantos corais foi feita em áreas rurais de diversos municípios da Serra Gaúcha, entre eles Caxias do Sul, Farroupilha, Antônio Prado, Bento Gonçalves e Carlos Barbosa. Os cantos coletados foram transcritos em pauta musical e sua letra transcrita na língua original, o Talian, acompanhadas de tradução para o português. A grande mentora da colheita desse tesouro foi a professora e pesquisadora Cleodes Maria Piazza Julio Ribeiro, que agregou uma equipe competente e dedicada para o trabalho.

Em texto por ela assinado, presente no primeiro volume, estão estas observações e registros:

Os italianos, ao emigrarem para o Sul do Brasil, trouxeram em sua bagagem cultural um amplo repertório de canções populares. Esse repertório enriqueceu-se pela soma dos cantos das diferentes províncias de origem dos imigrantes e, ainda, pelo acréscimo de cantos compostos, quase sempre, por autores anônimos, na própria Região Colonial Italiana (RCI).

Ao longo de mais de cem anos esse repertório modificou-se. Sabe-se que muitas canções já desapareceram, permanecendo apenas na memória de alguns velhos que já não sabem cantá-las. Lembram-se, apenas, de fragmentos dos versos. Por outro lado, aqui foram inventadas, muitas vezes, letras novas para melodias antigas. [...] A fundação de uma cooperativa, uma grande seca, a colheita da uva, a passagem dos revolucionários, a adesão das mulheres à moda dos cabelos curtos, ou outros fatos da vida cotidiana, deram motivo ao surgimento de muitas canções novas.

[...] A forma mais frequente de organização é a de coro de capela. Esses coros são formados por pessoas de ambos os sexos, de diferentes faixas etárias, habitantes de uma mesma localidade que se reúnem para cantar na missa do domingo. Do repertório desses grupos fazem parte os cantos sacros, mas, sobretudo, as velhas canções trazidas da Itália, ou aqui compostas e transmitidas de geração em geração.

[...] O Ecirs busca, dentro de sua perspectiva de trabalho, documentar todas as variantes significativas, tanto da letra como da música, conservando-as em sua forma primitiva. O confronto dessas variantes permite melhor se aquilatar o que foi o processo de aculturação local, neste como em outros segmentos da cultura.

Os três volumes publicados, como vai ocorrer com os próximos dois volumes, trazem impressos, de cada canção, os seguintes itens:

- transcrição musical digital;

- pauta musical manuscrita;

- transcrição da letra;

- tradução da letra, e

- fotos históricas.

Eles podem ser acessados por download, no site da Editora da UCS.

A publicação do primeiro volume teve o patrocínio do MOUSAI – Associação dos Amigos da Memória e do Patrimônio Cultural de Caxias do Sul. Os dois seguintes contaram com o patrocínio da Florense, empresa que é um modelo exemplar de apoio à produção e à preservação de bens culturais.

O lançamento do Volume III do Cansioniero Popolar foi bem festivo. Contou com a presença do cônsul italiano, mais a da rainha, das princesas e das embaixatrizes da Festa da Uva de 2024. Todos afinados com o início da celebração dos cento e cinquenta anos da imigração italiana.

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

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