Perdas, dores existem. Impossível não senti-las, não vê-las, não se deixar tocar por elas. Até porque elas vêm e nos deixam emaranhados internamente. Obscularizam nossa vida ou, ao menos, como ela era até ali, dificultando ainda mais nossos passos.
À mercê de tentar conviver com elas, ficamos.
Sim, tem as que são fortes demais. Há perdas que nos fazem perder a razão, o sentido. É ali que nos tornam um sentir sem medidas, ou mesmo, sem direção. Elas nos fazem sair dos trilhos, nos colocam num mundo à parte. Talvez numa última tentativa de nos proteger, de nos preservar deles, ficamos tentando amenizar a dor sentida.
Elas nos fazem cair no fundo do poço (de nós mesmos). Nos fazem perder o rumo, romper com a identidade de quem éramos. É ali que nos confrontamos com nós mesmos, com quem realmente somos e o que pensamos. Tudo em que acreditamos ser, colocamos em xeque. Nesse momento, entramos em todos os sentimentos que se fazem presentes numa perda significativa.
Sentir a dor é visitar as profundezas, as suas profundezas. Ecoa em mim essa afirmação...
A tristeza assume proporções assustadoras. As fantasias de culpa brotam de lugares escondidos. A raiva fica a alfinetar, tentando encontrar uma direção. Esses e muitos outros sentires vêm e vão de maneiras diversas quando somos afligidos por dores não imaginadas, não quistas.
Mas, no fim de tudo, percebemos que as respostas estão conosco, em nós, dentro de nós...
Se chegou ao fundo do seu poço, pois cada um tem um, pare de cavoucar mais. Agora, é inevitável resgatar a vida que existe dentro de você e encontrar a sua maneira de recomeçar. Inicie a subir do fundo em que se encontra e procure ser um eu totalmente diferente de quem você era. Se reconecte!
Mas não esqueça de que, para sair da aflição, antes precisa entrar. Não tenha medo de se deixar modificar. Isso é renascer fortalecido após a intensa dor experimentada.
O sofrimento nos faz realizar um mergulho profundo dentro do nosso próprio ser e nos constitui diferente de quem um dia fomos. Cada um, com a sua resposta, segue se renovando, um pouco a cada dia...
A dor é só sua. Valide ela! Não importa os outros, pois ela está dentro de você.
Superar é passar por cima da dor, e você precisa passar por dentro, sentir e se restituir no seu tempo, não nas regras do outro, pois o amor é seu, não do outro.
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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