Quem carrega rejeições tem uma missão maior do que sente. Maior inclusive dos engasgos que carrega no peito, das incertezas que arrasta e das angústias que tem atropeladas dentro de si.
Refazer-se é só a ponta, é só o início de tudo; de se reconstruir. É se renovar como nunca fez antes, é sair inteiro quando se sente pela metade. É se restaurar para seguir a vida com mais alegria e entendimento.
Isso não acontece de maneira mágica. O ser humano é refeito tijolinho por tijolinho numa grande construção que se inicia quando resolve olhar para si, para suas dores e aflições; quando, por alguma razão, o olhar se direciona diante da atitude do outro consigo. Mais do que isso, quando ele para pra observar o que sente diante das inconveniências e atitudes do outro.
Quem viveu, dentro de si, rejeições, não veio para ser vítima: veio para ser farol, para iluminar jornadas, para transcender ao que é ser uma pessoa prostrada. Com tristezas ocultas que clamam por algo a mais, veio para alertar consciências, para que não fiquem no menos, no vazio e na dor que se instalou outrora.
Quem viveu tudo isso tem o poder de buscar através do redireciamento, que construíram em si, que outros se modifiquem, para serem diferentes de como aprenderam a ser. Que atinjam um entendimento maior. Que ampliem seus horizontes. Que compreendam além do que lhes foi ensinado para que a vida de dentro e de fora se encontre e flua naquele ser e através dele de uma maneira natural, saudável, com verdade e transparência e, acima de tudo, com consciência. Uma consciência maior que abranja o que foi bom e o que não foi e de como enxergo a vida diante disso tudo: é a evolução do ser humano sendo ativada.
Sim, quem sofreu rejeições veio para refazer sentires e sentimentos, para ser a mola propulsora do reiniciar. Especialmente para aquietar angústias, para acolher a alma; para saber que, longe daqui, existe uma nova jornada e, essa sim, vale a pena ser vivida ou, ao menos, adentrada.
A meta é passar pelos intranquilos mares para a alcançá-la, principalmente para não absorver o que não lhe pertence. O que é do outro que fique com ele: sejam suas amarguras, suas incoerências, sua prepotência, independentemente de que distância ele se encontra de nós...
É ali que você separa o que é seu do que é do outro, e isso se torna um dos grandes desafios dessa jornada.
Antes, no entanto, precisa salvar-se e ser quem não cansa nunca de tentar, carregando em si e em cada dificuldade um novo recomeço.
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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