POR SILVANA TOAZZA
Reconduzido à presidência do Conselho de Administração da Cooperativa Vinícola Aurora para o biênio 2024-2026, Renê Tonello sabe dos desafios de ajudar a afinar os rumos de uma empresa que representa 1,1 mil famílias de viticultores e mais de 500 funcionários. E anuncia uma novidade: o início do projeto de expansão da unidade do Vale dos Vinhedos. Essa planta fabril de 14 mil m² foi inaugurada em 2019, com robôs e investimento de R$ 20 milhões, para descentralizar a produção e a expedição dos sucos de uva e vinhos da matriz, no coração de Bento Gonçalves.
À frente da cooperativa de 93 anos desde outubro de 2020, Renê Tonello, viticultor de 61 anos, é produtor de variedades de uvas para a elaboração de suco de uva integral na linha Buratti, em Bento Gonçalves. Cooperado desde 1980, dá continuidade ao legado do avô Antônio Guilherme Tonello, que já era sócio nos primórdios da Aurora, na década de 1930. Sobre o momento atual, ele avalia:
“O ano passado foi muito desafiador, mas foi também de muitos aprendizados. Nos unimos ainda mais para transformar a Aurora, repensamos o futuro e reafirmamos nosso compromisso para uma cooperativa cada vez mais profissional e sustentável”, avalia Tonello, referindo-se também aos desafios impostos pela quebra de safra de uva por conta do clima.
A seguir entrevista concedida pelo executivo à frente da maior cooperativa vitivinícola do Brasil, de forma exclusiva à seção "Conversa Afiada", deste portal de notícias:
Como recebe a reeleição para a presidência do Conselho de Administração da Cooperativa Vinícola Aurora para o biênio 2024-2026?
Renê Tonello: Recebo com muita alegria e sentimento de estar fazendo um bom trabalho, ao lado de todo o Conselho de Administração. Estamos passando por uma reestruturação em todos os processos na cooperativa e esse aval dos associados demonstra que estamos no caminho certo. O ano de 2023 foi bastante desafiador e realizamos um trabalho muito intenso no sentido de dar segurança aos cooperados para que não tivéssemos nenhum problema na safra. Em paralelo, damos uma atenção especial ao mercado de vinhos e sucos, que também tem as suas dificuldades e que é parte fundamental do nosso negócio. Acredito que os associados entenderam toda essa movimentação e confirmaram em assembleia que querem a continuidade deste trabalho que visa ao equilíbrio econômico e à sustentabilidade da Aurora.
Qual a projeção de crescimento no faturamento em 2024?
A projeção é de um crescimento em torno de 10%.
Que novidades estão no horizonte da empresa?
Um dos focos está nos investimentos em estrutura, que têm sido feitos de forma gradual, mas consistente. Investimos na modernização das estruturas e dos maquinários responsáveis pela nossa produção e oferecemos apoio aos nossos cooperados para que promovam a modernização dos processos produtivos nas propriedades. Nesta área, o ano nos reserva um desafio extraordinário, que é o início do plano de expansão da unidade do Vale dos Vinhedos, cujo projeto está em fase de aprovação. Em outro pilar, temos trabalhado muito fortemente no desenvolvimento humano, com a integração dos nossos colaboradores aos mais modernos conceitos de gestão, a partir de um novo planejamento estratégico e de programas de compliance e ESG. Essa reestruturação administrativa é ponto fundamental para um futuro sustentável e inclusivo. Do ponto de vista de mercado, seguimos apostando na diversidade dos nossos produtos. Neste ano vamos lançar novidades em várias linhas e um foco grande nas bebidas zero álcool. Paralelo a isso, trabalharemos no aperfeiçoamento de nossos roteiros turísticos e apostaremos na ampliação e consolidação do mercado, tanto interno quanto externo.
Quais as grandes conquistas e os grandes desafios dos últimos anos?
Tivemos conquistas importantes nos últimos anos, como um faturamento que permitiu fazer investimentos e também valorizar o esforço dos nossos cooperados e dos funcionários. Outras conquistas também que merecem ser valorizadas é o reconhecimento do mercado para a qualidade dos nossos produtos, nossas 872 medalhas em concursos nacionais e internacionais. Também percebemos como uma conquista importante a forma com superamos as dificuldades que se apresentaram nas últimas safras. Entre os desafios dos últimos anos está a busca por um crescimento constante e consistente nos resultados da cooperativa, atrelados ao nosso papel social, de estímulo à sucessão rural e à maior participação das mulheres, e outros princípios cooperativistas que dão o norte em todas as nossas ações.
A quebra da safra de uva 2024 impacta no resultado da companhia?
Devemos ter uma redução de volume, mas devido aos estoques equilibrados de bebidas, a quebra de safra não deverá ter um impacto muito significativo no resultado do ano.
Como é ajudar a conduzir os rumos da maior cooperativa vitivinícola do Brasil?
É motivo de muita alegria e também de responsabilidade. Importante dizer que é um trabalho em conjunto com todo o Conselho de Administração, com cada um dos representantes dos 20 núcleos, com a diretoria e funcionários da Aurora. De forma democrática, o nosso projeto foi reeleito para mais dois anos de gestão e estamos dispostos a dialogar com cada um dos nossos 1,1 mil cooperados, saber das suas necessidades, ter ainda foco nas questões de mercado, de imagem e da sustentabilidade da empresa. A Aurora tem passado por transformações importantes e esse é um trabalho contínuo e permanente, que precisa ser aperfeiçoado no dia a dia, de olho no planejamento estratégico e no centenário que vamos celebrar em 2031.
A empresa já viveu momentos de dificuldades em seu passado e se reergueu. Que dicas daria a empreendedores que no momento estão apreensivos com seus negócios?
A principal dica é se cercar de pessoas comprometidas com o negócio. Desenvolver a capacidade de diálogo com todos, mesmo com as vozes discordantes, porque isso ajuda a tomar decisões em prol da maioria e da própria cooperativa. É importante também planejar sempre os próximos passos, aprender com os erros do passado para que não se repitam e ser criativo para encontrar as melhores soluções. Reafirmo que sozinhos não vamos a lugar algum, e o cooperativismo é a base para toda e qualquer decisão.