Caxias do Sul 05/05/2024

Recalculando rotas

Não podemos desistir nunca de procurar a forma adequada para a esperada mudança
Produzido por Neusa Picolli Fante, 02/01/2024 às 09:28:36
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas
Foto: Morgane Coloda

Carregamos a ilusão de que abrimos espaços para coisas novas na nossa vida. No entanto, percebo que não somos nós, são os espaços que vão se abrindo e nós os vamos ocupando.

Por vezes, tentamos de diversas maneiras nos introduzir sem resultado e, de uma hora para outra, o que tanto desejamos se concretiza, não da maneira como havíamos desejado, mas de um modo que só ao grande Mestre da vida pertence...

No entanto, muitas vezes se faz necessário recalcular a rota, fazer pausas, mudar de direção; redirecionar. Observar, descansar, fazer de novo, realizar diferente, apostar novamente, mas sempre, em todos os casos, não desistir nunca de procurar a forma adequada para a esperada mudança.

Recalcular rotas acarreta fechar algumas portas para poder abrir outras; de um jeito singular, adentrar em partes de novas possibilidades. E isso implica sintonizar um pouco mais consigo mesmo, observar seus desejos, seus sonhos, seus objetivos, discernir para poder redirecionar e assim seguir.

Muitos esperam anos, décadas, ou até mais tempo para realizar o tão desejado ideal. Enquanto isso, se fortificam, empreendem em se aprimorar para o novo desafio, para realmente chegar aonde desejam, aonde seu coração almeja alcançar. Ou, desinvestidos do sonho, ficam à margem da vida ‘sem eira nem beira’ e sem direção...

Quando eu e minha família viajamos para o interior do Peru, ouvi pela primeira vez essa expressão, que se referia às casas existentes. As casas que não tinham eira, ou seja, espaço perto da casa, os moradores não eram proprietários; e sem beira se referia a não ter a aba da casa, que serve pra proteger da chuva. Assim, quem não tinha na casa eira nem beira não era dono da terra, nem da casa, nem de alguma fonte de renda...

Recalcular rotas é decidir uma nova jornada, uma nova maneira de se reorganizar, inclusive demarcar os próximos passos, as possíveis alternativas daquela etapa, as curvas da jornada. O seguir adiante de uma maneira leve, tranquila, equilibrada, serena, é a busca, mas nem sempre vem assim, pode vir sem aviso, com pedras no caminho, com indecisões que se arrastam, entre outros percalços.

Recalcular rotas é rever os passos, é ter a possibilidade de realizar novas escolhas. Acima de tudo, é a consequência de não ter desistido, esmorecido, e ter ficado no extremo de desistir, na borda do que desejou um dia.

Quando as coisas estão difíceis, quando você não consegue alcançar seus objetivos, quando necessita implantar novas metas – recalcule sua rota. Perceba os desvios, as paradas necessárias para descanso, a persistência da jornada. E, acima de tudo, não canse de tentar, tentar e tentar, de todos os jeitos em todas as etapas.

Quando as coisas estão fáceis, recalcule detalhes da sua rota... recalcule sempre de todas as maneiras para ir além do que se propôs...

Constantemente, recalcule passos, planeje novamente, almeje novos objetivos. Sempre à procura de conexões que te nutrem, que também te redirecionam... à procura de aconchego, de direção, de discernimento que pode te levar pela vida afora. Assim, recalcular rotas vale a jornada.

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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