Caxias do Sul 23/04/2024

O confronto com nós mesmos

O freio na rotina e a ressignificação dos dias propiciaram um mergulho como nunca nas profundezas da nossa essência, e isso desacomodou
Produzido por Silvana Toazza, 03/08/2020 às 16:48:22
Foto: Liliane Giordano

É fato: além de preocupação com a saúde, problemas financeiros e instabilidade profissional, a pandemia escancarou males d’alma, como depressão e síndrome do pânico. A constatação vem de médicos, psicólogos e profissionais das mais variadas áreas.

O que ocorre é que, há quase cinco meses, fomos colocamos à prova. Nossa rotina sofreu brusca alteração e o futuro transformou-se em um emaranhado de interrogações.

O mundo que conhecíamos se desconstruiu à nossa frente, e aquilo que tínhamos como certeza, transformou-se em dúvida. Carreira, forma de trabalhar, relações pessoais, metas, garantia de salário, tudo foi alterado.

Mas, em meio a tudo isso, o freio na rotina e a ressignificação dos dias propiciaram um mergulho como nunca para dentro de nós mesmos, nas profundezas da nossa essência, e isso desacomodou. Perturbou. Nossa casa interna, assim como a externa, exige uma reorganização. Viver no piloto automático, com uma agenda corrida, por vezes anestesiava a essência. E a dor.

Com a vida em compasso de espera, tivemos de aprender a lidar com as angústias, com as incertezas, com as pressões. A ter paciência, pois o tempo parece nos aprisionar. Nem tudo mais está disponível. A forma de trabalhar mudou. Precisamos nos atualizar rapidamente sobre tecnologia, em como divulgar nosso trabalho por lives e redes sociais, a nos comunicar com a família em ligações coletivas pelo WhatsApp.

Mas o mergulho na alma, o confronto com nós mesmos, esse nem todos estavam preparados. Lidar com pressão, com espera, com ansiedade, com desesperança, isso exige muito preparo emocional, muito equilíbrio, muita resiliência, muita fé e força.

Então, a pandemia vem e nos confronta com nosso verdadeiro eu. Nos exige autoconhecimento, nos faz descobrir coisas que não sabíamos sobre nós mesmos, nos faz amadurecer ao percebermos que, sim, a vida nos prega peças, nos dá golpes, mas também nos surpreende. É doce e cruel. É ilusão achar que a controlamos, mas também é tolice não lutarmos para sermos protagonistas de nossa história, fazermos a diferença, deixarmos a nossa marca e tentarmos alterar o nosso enredo.

Mas Silvana Toazza, você virou psicóloga agora”? Não, sou apenas uma jornalista, mas estudo o assunto ouvindo quem sabe, falando com profissionais da área, conversando com fontes qualificadas, assistindo lives e lendo.

Aprender a lidar com nossas frustrações, vulnerabilidades e inseguranças é um dos grandes legados de uma crise que é de saúde, mas também financeira e emocional.

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