Seis anos se passaram desde que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) foi sancionada no Brasil. Desde então, o cenário mudou — e muito. O que no início foi visto por muitos empresários como um “problema do setor de TI” ou mais uma “burocracia jurídica”, hoje é reconhecido como peça estratégica na gestão de riscos e na construção de reputação empresarial.
Como advogada, tenho acompanhado de perto a evolução da LGPD na prática. E posso afirmar: o desafio da conformidade vai muito além do jurídico — ele toca a governança, o marketing, o relacionamento com o cliente e, principalmente, a confiança do mercado.
Recentemente, durante o 1º Encontro de Encarregados promovido pela ANPD, ficou evidente que a Autoridade Nacional de Proteção de Dados está atenta e atuante. O recado foi claro: se a sua empresa trata dados pessoais — não importa o porte ou o ramo —, está sob o radar da fiscalização. A inteligência artificial, cada vez mais presente nos negócios, acelera esse alerta.
É nesse cenário que ganha ainda mais destaque o papel do DPO — o Encarregado de Proteção de Dados. Não basta ter alguém nomeado no papel. Esse profissional precisa estar preparado, acessível e, acima de tudo, envolvido nas decisões estratégicas da empresa. A ANPD já está analisando a transparência dessas informações nos sites institucionais. A omissão, ou até mesmo a desinformação, pode resultar em sanções.
Para os empresários, esse é o momento de agir. Vazamentos de dados, como os ocorridos na Enel ou no INSS, mostraram que a má gestão de dados tem impacto direto no valor da empresa — inclusive no valor de mercado. Perdas de 3% a 5% no valor das ações após incidentes são realidade. E o mais grave: muitos desses problemas poderiam ser evitados com protocolos simples, treinamentos básicos e comunicação eficiente.
A proteção de dados é, hoje, um diferencial competitivo. Empresas que investem em governança, prevenção e transparência estão melhor posicionadas no mercado, especialmente em setores que lidam com grande volume de informações sensíveis — como saúde, educação, varejo, finanças e tecnologia.
A ANPD vem sinalizando que o futuro exigirá ainda mais: cidades inteligentes, reconhecimento facial, IA generativa... A inovação é bem-vinda, mas ela deve caminhar junto com a ética digital. O Radar Tecnológico da ANPD, que vem monitorando os impactos dessas tecnologias emergentes, é leitura obrigatória para qualquer gestor atento.
O empresário que deseja perenidade precisa entender: proteger dados não é gasto, é investimento. É proteger o patrimônio mais valioso da sua empresa hoje — a confiança do cliente.
Seis anos depois da LGPD, estamos apenas no começo de uma nova cultura empresarial. Uma cultura que exige responsabilidade, antecipação e, sobretudo, comprometimento com o que mais importa: as pessoas por trás dos dados.
Ciane Meneguzzi Pistorello é advogada, com pós-graduação em Direito Previdenciário, Direito do Trabalho e Direito Digital. Presta consultoria para empresas no ramo do direito do trabalho e direito digital. É coordenadora do Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em MBA em Gestão de Previdência Privada – Fundos de Pensão, do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG.
Da mesma autora, leia outro texto AQUI