Esses dias aí que deu aquelas chuvaradas, fui consultar uns oráculos da roça em busca de soluções pras desgraças ambientais. Coletei umas mandingas agrocatólicas. Naquela lógica: pra veneno de cobra, a própria.
Um dos feitiços é assim: pegar umas roupas de criança que tu tem em casa e jogar pela janela (as roupas, no caso). Daí, pede pra algum pimpolho rezar pra Santa Bárbara, a deusa dos temporais e do mau tempo:
“Ó, querida Santa Bárbara!
Fica sempre do meu lado,
pra que eu possa enfrentar de cara erguida
os raios e trovoadas dessa vida.”
Outra simpatia, mais obscura, é colocar um garfo e uma colher formando um X na grama. Nada de faca, nem de laje: é garfo e colher, sobre a grama. E daí rezar. Pra Santa Bárbara, pra Iansã, pra qualquer entidade. Dependendo do aguaceiro, pode invocar até o Diabo, que ele também não gosta que entre muita água lá nas terras dele.
Depois tem a técnica mais antiga de todas: queimar ramo de olivo, ou de oliveira, dependendo se o padre benzer em italiano ou português. O principal é que o ramo seja bento, ou benzido, impreterivelmente no domingo de ramos.
Uma bruxaria moderna é desligar os eletrônicos e jamais, durante o temporal, encostar em maçaneta, grade ou celular. Diz que chama: vem o raio e kaput.
Isso de janela, aliás, tem que cuidar pra não deixar espelho perto. Mesmo que espante vampiro, atrai o raio. Mas tem uma magia que é colocar um ovo no parapeito, ou até no muro do quintal, e daí falar dez vezes:
“Santa Clara clareou,
São Domingo iluminou:
vai chuva, vem sol,
vai chuva, vem sol.”
Mas não pode passar de dez vezes, senão vem o sol e nunca mais volta a chuva.
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.
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