Caxias do Sul 18/05/2024

Como foi a primeira Festa da Uva

Origem do evento, em 1931, tinha como foco informar melhor os vitivinicultores da região
Produzido por José Clemente Pozenato, 24/02/2022 às 11:09:58
Foto: Marcos Fernando Kirst

Em sua obra clássica Festa & Identidade: Como se fez a Festa da Uva (EDUCS, 2002), a pesquisadora da cultura da região de imigração italiana da Serra Gaúcha, Cleodes M. Piazza Julio Ribeiro, oferece um quadro detalhado, não só da história da festa, como de seu significado cultural.

Na longa pesquisa que deu base à obra, a autora revela detalhes que o tempo vai tornando esquecidos. A começar pela “Feira de amostras de uvas e vinhos”, idealizada por Joaquim Pedro Lisboa, coletor estadual, e realizada em 1931. A exposição foi chamada de “Festa das Uvas”, no plural.

O objetivo do evento, conforme relata a autora, foi este:

Na prática, os promotores da “festa-feira de amostras de uvas e vinhos” pretendiam concentrar o maior número possível de vitivinicultores de Caxias e da região, com o objetivo de transmitir-lhes informações novas (e reafirmar outras já conhecidas) sobre o cultivo de videiras de castas superiores.

Por trás da decisão, é bom não esquecer, estava também Celeste Gobatto, uma figura que deveria ser mais exposta ao conhecimento de todos. Formado em enologia e engenharia agrícola em Conegliano e em Pisa, veio para o Rio Grande do Sul em 1912, a convite do Governador Carlos Barbosa, para dar aulas na Escola de Engenharia de Porto Alegre.

Na realidade, Celeste Gobatto tinha uma formação multifacetada, incluindo filosofia, literatura e engenharia de materiais. Era um geminiano, também! Foi Intendente de Caxias em 1926, e em 1931 dirigia a Estação Experimental de Viticultura e Enologia, instalada no espaço hoje ocupado pela UCS

Foi Celeste Gobatto quem fez o discurso de inauguração da “Festa das Uvas”, assim registrado pelo Correio do Povo, de Porto Alegre:

[...] autoridade em assuntos agrícolas que, em termos sóbrios mas precisos, [Celeste Gobatto] demonstrou a utilidade da festa para estimular os viticultores a abandonar o fetichismo da (uva) Isabel, limitando sua cultura à área considerável que já ocupa, para aproveitar outras videiras de qualidade superior. (Op. cit., p. 86).

O mesmo Correio do Povo registrou a reação do público-alvo com estes detalhes:

Numerosos eram os visitantes que, de lápis em punho na frente das castas que interessavam, tomavam nota de seus caracteres e de seus nomes, com o propósito de introduzi-las em suas lavouras, a fim de melhorar a constituição de seu parreiral.

O sucesso foi tão grande que, ainda durante o evento, os organizadores decidiram fazer uma Festa da Uva anual, ampliada para atrair não só os vitivinicultores, mas todo o povo de Caxias, da região, do estado e do país.

Três anos mais tarde, em 1934, o Diário de Notícias, também de Porto Alegre, fazia este registro:

A simpatia com que foi visitada e comentada a primeira exposição de uvas fez surgir na mente de Joaquim Pedro Lisboa – esse grande e incansável amigo da Colônia Italiana – a ideia de ampliar as proporções das exposições futuras, transformando-as em festas grandiosas nas quais tomasse parte não somente o povo de Caxias, mas o povo inteiro do Rio Grande do Sul e cujo brilho repercutisse em todo o Brasil (Id .ibid. p. 89).

Uma ideia que deu certo, cem por cento. Por isso, Estamos juntos outra vez!

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

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