Caxias do Sul 18/05/2024

Assuntos não tocados

As dores ficam escondidas, se mostram disfarçadas na vida de muitas pessoas
Produzido por Neusa Picolli Fante, 13/09/2022 às 08:07:57
Foto: Morgane Coloda

Assim ele andava, pra lá e pra cá. Os papéis na mão queriam dizer que só desejava enxergar aquilo, resolver o que conseguia equalizar, o que tinha nas mãos, o que podia racionalizar...

“Resmungão”, assim era considerado pelos colegas, que cochichavam sobre ele... E distorcidamente diziam o que aparecia nele, não o que ele era na essência...

Dentro dele havia muitos assuntos não tocados, que causavam um turbilhão de emoções e o estranhamento em situações...

Quantas vezes vemos atrapalhações acontecerem, pessoas agindo no furor das emoções e só se dando conta depois que o furacão passou, que extrapolaram. Ou, em contrapartida, outro que não consegue dizer o que pensa, como enxerga as coisas. Onde está o equilíbrio?

As dores ficam escondidas, se mostram disfarçadas na vida de muitas pessoas. Assim acontecia com Marco, que chegou triste na empresa naquele dia. E ele era do tipo que, quando ficava triste, desistia... Era diferente de Raul, que, quando estava em meio a sua tristeza, jogava nos que estavam a sua volta muitas palavras de desalento. As pessoas baixavam a cabeça e mostravam-se confusas, não sabiam se era delas a desorganização que se construía. E a confusão interna de muitas pessoas estava formada. Onde, ilusoriamente, prevalecia a importância de um sobre o outro? Por que isso acontecia?

Talvez porque as pessoas não se conheciam o suficiente para saber que não era delas. Talvez porque não sabiam se comunicar, e nem dizer o que era necessário, sem agredir ou mutilar o outro. Talvez porque aceitavam tudo o que vinha dos outros, e esse outro é que estava sempre certo, o eu dentro de si era sempre o errado. Enfim, não aprenderam a se amar e a olhar as marcas que carregavam sem se estraçalhar.

Disfarçamos que não temos dificuldades, até elas aparecerem abruptamente na nossa vida. Nesse momento, os assuntos não tocados assumem um direcionamento que não gostaríamos, que não desejamos, e nos remetem a labirintos nunca antes adentrados ou imaginados.

É esse momento que exige mais de cada um de nós – individualmente. Necessitamos de comprometimento, coerência, busca pelo entendimento, pela compreensão, e, acima de tudo, nos permitir enxergar diferente e de uma forma mais abrangente.

Afinal, quando desejo enxergar mais longe, galgo degrau após degrau, assim vou mais alto, vou no caminho de aprender, de crescer em essência, de fortificar minha raiz, de construir coerências... que refletem em mim e no outro também...

Ao contrário do que dizem, deixar no escuro é que causa dor; olhar para situações difíceis que vivemos é jogar luz sobre elas e deixá-las mais tranquilas em nós...

Meu convite é para você integrar com um olhar amoroso o de dentro e o de fora de você, pois os dois fazem parte da vida – da minha e da sua, principalmente. E assim andar pelos caminhos onde anda, muito bem acompanhado e acolhido, por você mesmo!

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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