Caxias do Sul 04/05/2024

A terra do moscatel

Novo roteiro turístico da Serra enaltece o produto e será lançado nesta sexta-feira
Produzido por José Clemente Pozenato, 21/03/2024 às 10:03:44
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”
Foto: Marcos Fernando Kirst

Há cinco anos o município de Farroupilha recebeu, por lei federal, o título de Capital Nacional do Moscatel. Agora, a prefeitura farroupilhense acaba de criar o programa Terra do Moscatel como novo roteiro turístico, a ser lançado oficialmente neste dia 22 de março, no Santuário de Caravaggio. Desse roteiro do moscatel fazem parte nove vinícolas do município.

Agora vou contar um segredo que poucos conhecem. Quando escrevi a novela policial O Caso do Martelo, eu precisava de elementos para compor o cenário visual de uma pequena vila da nossa colônia italiana. O desenho deu certo, tanto que a novela foi gravada em filme como Caso Especial da TV Globo. O nome fictício que dei ao vilarejo, na novela, foi Santa Juliana. Não por acaso. Santa Juliana é a padroeira de Mato Perso, 4º distrito de Farroupilha.

Quando escrevi essa novela, não tinha ainda entrado na capela de Santa Juliana, para ter a surpresa que tive anos depois, quando fiquei sabendo que a Santa ficou célebre porque amarrou o diabo. Ela nasceu no século III em Nicomédia, atual Turquia. Como era cristã, recusou-se a casar com um jovem pagão e foi colocada num calabouço, onde recebeu a visita do diabo que tentou convencê-la a se casar com aquele moço. Ela resistiu à tentação e foi decapitada, mas ficou como exemplo para as cristãs e os cristãos do mundo inteiro. O escultor Nino Rigo, um napolitano seu devoto, foi quem criou a imagem que se encontra reproduzida na capela de Mato Perso. Nela, Santa Juliana segura o diabo preso numa corrente de ferro. Muitas histórias sobre essa imagem são contadas na comunidade.

Quando Paulo José veio fazer a gravação da novela, fui com ele até Mato Perso, para mostrar o cenário de origem da história. Ele também se espantou com a imagem de um diabo no altar. E depois, voltando pelo Travessão Alfredo, em Flores da Cunha, ele fez parar o carro e disse aquela frase histórica: “Aqui vai ser a Santa Juliana!”. Como acabou sendo.

É de Mato Perso um espumante moscatel que aprecio muito, produzido pela vinícola Giacomin. Tive um colega da família Giacomin, natural de Mato Perso, nos meus tempos de ginásio. É de lá também o vinho que faço o Inspetor Pasúbio tomar durante sua investigação do assassinato a golpes de martelo em Santa Juliana.

Outra vinícola de Mato Perso foi criada pela família de Antonio Basso. Para ela escrevi um texto, dando uma imagem poética do lugar, que tomo a liberdade de reproduzir em parte:

“Mato Perso é um desses lugares em que a gente se embriaga só de olhar: são encostas vertiginosas, vales cheios de promessas, cascatas que fazem respirar fundo. Não bastasse essa magia, os parreirais espalham tapetes suspensos, convidando a voar numa viagem ensolarada. (...)

Mato Perso pode se considerar um paraíso. Salames inesquecíveis, queijos macios e provocantes, pães um pouco menos que divinos. Mas nada disso seria perfeito se não houvesse o vinho.”

Ali pode-se beber um vinho rústico de uva Isabel, mas também um inesquecível espumante moscatel. Por isso, a iniciativa de se criar um roteiro turístico pela Terra do Moscatel é um convite tentador. De tentação virtuosa, com a proteção de Santa Juliana! Não só para visitar Mato Perso, mas toda Farroupilha. Incluindo Salto Ventoso, onde foi filmada a principal cena de amor do filme O Quatrilho, com Teresa e Mássimo...

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

Do mesmo autor, leia outro texto AQUI