Caxias do Sul 29/04/2024

A revolução na jornada de trabalho

Semana de quatro dias começa a entrar na pauta do trabalhador brasileiro
Produzido por Ciane Meneguzzi Pistorello , 13/12/2023 às 09:33:09
Ciane Meneguzzi Pistorello é advogada, com pós-graduação em Direito Previdenciário, Direito do Trabalho e Direito Digital
Foto: Luizinho Bebber

O despertador toca em uma manhã de segunda-feira, mas, ao invés do habitual pesar que antecede o início de mais uma semana de trabalho, você depara com a deliciosa perspectiva de um dia a mais de folga. Essa possibilidade, outrora vista como utopia, é agora uma realidade para algumas empresas no Brasil que estão experimentando a semana de 4 dias.

Internacionalmente conhecida como four-day workweek, essa mudança na relação de trabalho tem conquistado espaço em diversos países, e o Brasil não ficou de fora dessa tendência. A proposta é simples: reduzir a jornada de trabalho de cinco para quatro dias semanais, mantendo o salário inalterado. Novembro de 2023 marca o início dos testes dessa revolução no país, conduzidos pela organização 4 Day Week Global, em colaboração com Reconnect Happiness at Work e a Boston College.

O modelo 100-80-100, em que os trabalhadores receberão 100% do salário por 80% do tempo, mantendo 100% da produtividade, é a base desse experimento. O objetivo? Avaliar os impactos na produtividade e na qualidade de vida no trabalho.

Mas como será essa implementação? A diminuição da carga horária não implica apenas cortar um dia, mas sim, repensar a forma como o trabalho é realizado. Reuniões serão mais curtas, processos serão otimizados, tarefas serão automatizadas e priorizadas. A colaboração entre líderes e colaboradores será fundamental para o sucesso desse novo modelo.

A semana de 4 dias representa uma mudança significativa em relação ao padrão estabelecido no século XX, quando a jornada de 8 horas e 5 dias por semana se tornou a norma, afinal, o mundo está se perguntando se estamos trabalhando demais.

A mudança para uma jornada mais curta não implica uma renegociação salarial proporcional. Os trabalhadores continuarão recebendo o mesmo salário, mas despendendo menos tempo. A ideia é que, ao reduzir as horas de trabalho, a produtividade não seja comprometida.

Diversos países como Bélgica, Islândia, Nova Zelândia, Japão, Espanha, Reino Unido, e agora o Brasil, têm testado ou adotado a semana de 4 dias. Os resultados dessas experiências são promissores, mostrando atração de talentos, redução do absenteísmo, aumento da produtividade e até diminuição do consumo de energia elétrica.

Na Islândia, por exemplo, um teste realizado entre 2015 e 2019 com 2.500 trabalhadores mostrou melhorias no bem-estar dos colaboradores, otimização dos processos e produtividade mantida ou até mesmo melhorada.

Os defensores desse novo modelo argumentam que produzir mais em menos tempo é possível, mas requer inovação e colaboração. O papel do RH e DP nesse processo será crucial, pois eles precisarão encontrar eficiência, otimizar processos e garantir a qualidade de vida no trabalho.

Em um mundo onde o equilíbrio entre vida pessoal e profissional se torna cada vez mais valorizado, a semana de 4 dias pode representar não apenas uma mudança na forma como trabalhamos, mas também uma revolução na busca por um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo. Resta-nos aguardar os resultados desses experimentos no Brasil e em outros países para entender se essa é a resposta para um futuro mais equilibrado e feliz.

Ciane Meneguzzi Pistorello é advogada, com pós-graduação em Direito Previdenciário, Direito do Trabalho e Direito Digital. Presta consultoria para empresas no ramo do direito do trabalho e direito digital. É coordenadora do Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em MBA em Gestão de Previdência Privada – Fundos de Pensão, do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG.

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