Caxias do Sul 03/05/2024

Quem é esse Coronavírus? Um perfil detalhado feito por médico caxiense ajuda a compreender o vírus e a doença

Pneumologista detalha, em texto no formato de perguntas e respostas, as nuances do micro-organismo e da pandemia que preocupam o mundo
Produzido por Luciano Grohs, 06/04/2020 às 13:25:09
Quem é esse Coronavírus? Um perfil detalhado feito por médico caxiense ajuda a compreender o vírus e a doença
Foto: COFEN.GOV.BR

POR LUCIANO GROHS

Em época de pandemia, é importante que, em intervalos de tempos determinados, voltemos à origem da discussão, não esquecendo o quadro geral.

É importante estar em dia com as últimas notícias, mas também não perder a visão panorâmica. Neste sentido, buscamos trazer as informações disponíveis de forma geral e atualizada.

SARS-COV2 OU COVID-19?

O vírus que provoca a pandemia é chamado de SARS-COV2. A doença por ele provocada é a COVID-19.

O QUE É ESSE VÍRUS E DE ONDE ELE VEIO?

Os Coronavirus são um grupo de vírus encapsulados, que possuem RNA como material genético. Desta forma, são sujeitos a mutações. Pertencem à ordem Nidovirales. O nome “corona” vem do latim “coroa”, que é devido às espículas que apresenta quando visibilizado em microscopia eletrônica.

Os coronavírus são mais comumente encontrados em animais. Acredita-se que seus reservatórios naturais sejam morcegos e aves. Acredita-se também que se originaram em cerca de 8.000 a.C.

Quando sofrem mutação, podem atacar o ser humano. O primeiro Coronavirus que foi identificado como causando doença em humanos foi na década de 1950.

Três tipos mais graves de Coronavírus foram identificados em humanos: SARS-COV, em 2003, originado da China; o MERS, em 2012, originado na Arábia Saudita, e agora o SARS-COV-2.

QUAL O RISCO DO CORONAVÍRUS?

Duas medidas são utilizadas para medir risco: taxa de transmissibilidade e letalidade.

Taxa de transmissibilidade ou R0 (r-zero) diz respeito a quantas pessoas, em média, são transmitidas a partir de um paciente individual. No caso do Coronavírus, o R0 atribuído é de 1,4-5% (média 3%), isto é, cada contaminado transmite o vírus em média para três pessoas.

Letalidade é o risco de morte pela doença. A letalidade atribuída é da ordem de 3% (3% dos infectados morreriam da doença).

COMO COMPARÁ-LO COM OUTROS VÍRUS?

A título de comparação, nos casos de Influenza H1N1, o R0 era de 1,2 a 1,6 e a letalidade final de 0,03.

No sarampo, altamente transmissível, o R0 é de 12-18 e a letalidade 0,3%

É importante salientar que as políticas de diagnóstico, dada a escassez de exames, foram variáveis. No Brasil, por exemplo, testa-se apenas os casos graves. Isso pode levar a dados futuros diferentes dos atuais. Estão sendo realizados estudos de base populacional, para achar dados mais precisos.

O QUE QUER DIZER PANDEMIA?

Três conceitos são importantes nesse momento:

Endemia: é a ocorrência usual de uma doença em uma área geográfica determinada.

Epidemia: é a ocorrência de uma doença em excesso, acima da normalidade – pico de casos na região.

Pandemia: é uma epidemia com área geográfica extensa, vários locais ou países

QUAL A VELOCIDADE DESTA DOENÇA NO MUNDO?

08/12/2019: primeiros casos em Wuhan

05/01/2020: Notificação pela OMS de uma nova doença

07/01/2020: Identificação do Coronavírus como agente causal

10/01/2020: Sequenciado material genético do vírus

13/01/2020: primeiros casos fora da China

30/01/2020: declarada Emergência Internacional

26/02/2020: primeiro caso identificado no Brasil

11/03/2020: OMS declara pandemia mundial

25/03/2020: 416.686 casos

06/04/2020: 1.292.564 casos, 70.798 mortes

BRASIL: 12.056 casos, 553 mortes, letalidade de 4,5%

QUAIS OS ASPECTOS CLÍNICOS DESSA NOVA INFECÇÃO?

Os dados clínicos apontam para sintomas inespecíficos.

A grande maioria dos pacientes apresenta febre (98%). Alteração respiratória foi identificada em 3% a 31% dos pacientes. Tosse seca aparece em um número de 46-82% e, aparentemente, nos casos de envolvimento pulmonar, é um sintoma menos presente.

81% dos pacientes apresentam quadro leve, 14% quadros graves e 5% casos muito graves.

Dos pacientes que hospitalizam, 20% a 30% necessitam de manejo em UTI, por insuficiência ventilatória.

Os sintomas desenvolvem-se geralmente em torno do quarto dia após a contaminação. A piora em geral se dá próximo ao oitavo dia a partir do início dos sintomas.

A DOENÇA NÃO ATINGE CRIANÇAS?

Ao contrário do que alguns imaginam, as crianças não são imunes ao vírus, embora apresentem menos riscos. Nos dados atuais, 2,5% dos acometidos são crianças, e 0,2% das formas de UTI. Além disso, sabe-se dos dados de gripe que as crianças são importantes transmissores de doença viral para os demais grupos, motivo pelo qual se propõe redução de circulação das crianças, com suspensão de atividades escolares.

QUAL O TEMPO PARA RECUPERAÇÃO DA DOENÇA?

Após casos leves, a recuperação estimada é de 2 semanas para os casos leves, e 3 a 6 semanas para os casos graves.

QUAIS DOENÇAS AUMENTAM O RISCO DE COMPLICAÇÕES?

Pessoas com outras doenças (chamadas comorbidades) têm risco aumentado de complicações.

As taxas estimadas são:

Doença cardíaca 10,5%

Diabetes 7,3%

Doença respiratória 6,3%

HAS (hipertensão arterial sistêmica) 6,0 %

Câncer 5,6%

Sem comorbidade 0,9%

QUAIS AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO DO CORONAVÍRUS?

A medida isolada mais importante é a lavagem de mãos. Preferencialmente com água e sabão/sabonete. Quando isso é difícil, deve-se usar o álcool-gel a 70%.

Importante também é cobrir o nariz ao tossir ou espirrar, evitar aglomerações, manter os ambientes ventilados e não compartilhar objetos pessoais.

POR QUE É NECESSÁRIO FICAR EM CASA?

A redução da circulação das pessoas reduz a velocidade de transmissão da doença (o que ficou conhecido como “achatar a curva”). Essa medida permite que o vírus se espalhe mais lentamente, evitando a superlotação dos serviços de saúde e a falta de recursos. É fundamental, principalmente neste período em que se está buscando recursos para combater a pandemia.

Luciano Grohs é médico pneumologista, consultor técnico do Fátima Saúde e diretor técnico do MarcoSaúde

DR LUCIANO GROHS

CRÉDITO DA FOTO: Madeline Juber