Caxias do Sul 03/05/2024

Idosos em casa? Não, em perigosas filas do lado de fora de farmácias, lotéricas e bancos

De que vale para a saúde pública garantir o distanciamento mínimo dentro das instituições a custo da consequente aglomeração nas calçadas?
Produzido por Silvana Toazza, 08/04/2020 às 10:38:19
Idosos em casa? Não, em perigosas filas do lado de fora de farmácias, lotéricas e bancos
Farmácia Básica Municipal, na Rua Sinimbu, ao lado do camelódromo, é foco de longas filas
Foto: Marcos Fernando Kirst

Em um momento em que as medidas de restrição social mudaram a rotina da população, há cenas em Caxias que vêm ao desencontro das normas defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) contra o coronavírus. Uma dessas imagens típicas é a de idosos, principal grupo de risco, fazendo filas do lado de fora de farmácias, lotéricas e agências bancárias.

Nesse último caso, a situação parece complicada. De um lado, a maioria dos bancos restringiu o horário de expediente e dá prioridade ao atendimento com hora marcada, liberando o acesso às agências a poucos clientes por vez. Mas na área do saguão, onde ficam os caixas eletrônicos, a cena é outra: filas e filas de correntistas, incluindo idosos, com pouca ou nenhuma assistência por parte dos bancos, que alegam terem reduzido a exposição de funcionários por conta das medidas de isolamento social.

Vejam então o que ocorre: os aposentados nem sempre conseguem utilizar de forma assertiva os caixas eletrônicos e o cartão para retirar o dinheiro, pagar contas e fazer as transações. Com isso, a fila só aumenta e se esparrama pela calçada. Não raro pedem ajuda a quem estiver ao lado, expondo-se a situações de risco financeiro e vulnerabilidade. Nem sempre esses idosos têm alguém para acompanhá-los na solução de suas questões pessoais. E muitos também preferem manter sua independência.

Com isso, em um momento em que deveriam estar sendo protegidos em casa, ficam mais tempo fora dela. As filas em lotéricas e farmácias também se espalham do lado de fora, na calçada, quase nunca respeitando a distância mínima de um metro entre as pessoas. Nos bancos, com dificuldades tecnológicas nos caixas eletrônicos, eles demoram muito mais tempo do que habitualmente, provocando lentidão nas filas e se colocando em risco.

Uma leitora compartilhou uma informação com o site de que, ao se dirigir a uma agência bancária de uma instituição pública no centro de Caxias nesta semana de pagamento, ficou impressionada com o número de idosos tentando usar os caixas eletrônicos e tendo dificuldades. Resolveu agir com solidariedade e passou trinta minutos os auxiliando.

Quando questionou-os sobre o motivo de estarem ali, quando deveriam ficar em casa, a maioria aludiu que precisa retirar o dinheirinho para ir ao mercado, comprar remédios, pagar contas. Fácil é dizer, difícil é conseguir de fato manter a terceira idade protegida em seus lares quando eles ainda auxiliam suas famílias e são responsáveis pelo sustento de muitas casas.

De que vale para a saúde pública garantir o distanciamento mínimo dentro das instituições a custo da consequente aglomeração nas calçadas?