Caxias do Sul 29/03/2024

Querendo ou não, iremos envelhecer

Estar vivo pressupõe alimentar os nossos sonhos todos os dias, apesar das adversidades e das contradições que a vida nos apresenta
Produzido por Delcio Agliardi, 24/03/2020 às 09:06:28
Foto: Thais Bachi

Há um equívoco disseminado no discurso ocidental de que morreremos porque estaremos velhos; essa é uma lógica que associa vida longeva à morte. Minha tese é de que morremos porque estamos vivos, independente da nossa idade cronológica. E para estarmos vivos, na sociedade pós-moderna e mediatizada pelo consumo e pelo excesso de informação, é preciso de uma potente filosofia de vida, capaz de enfrentar de outra forma o que se passa no cotidiano.

Estar vivo pressupõe alimentar os nossos sonhos todos os dias, apesar das adversidades e das contradições que a vida nos apresenta; é algo que se aproxima da sabedoria shakespeariana. Se você tem amigos, sai para dançar, viajar, estudar, namorar, e se alimenta de outras coisas plurais, certamente terá vida em abundância.

Sabemos que o declínio biológico é um processo natural inevitável: querendo ou não, iremos envelhecer. Porém, a idade e o processo de envelhecimento possuem outras variáveis e significados que excedem as dimensões da idade cronológica. Na região da Serra Gaúcha, o número de pessoas com sessenta anos ou mais está crescendo mais rapidamente do que o de outras regiões do País, afetando os indivíduos de diferentes estratos sociais.

Provavelmente, essa mudança demográfica irá contribuir para a construção de outra imagem do envelhecimento, de uma vida ativa e contemplativa, disponível por mais tempo e no interior de uma cultura influenciada por novas perspectivas do cuidar de si pela influência dos outros.

E qual é o nome do seu sonho? O meu é viver cada etapa da vida com alegria e protagonismo, afinal, valho-me do ensinamento de Caetano Veloso: cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Delcio Agliardi é Doutor em Letras e mestre em Educação. Professor da Universidade de Caxias do Sul na Área do Conhecimento de Humanidades. Coordena o Programa UCS Sênior – Educação e Longevidade. Foi patrono da 35ª Feira do Livro de Caxias do Sul (2019).