Caxias do Sul 18/05/2024

O torneio de laço de vaca parada

Origem do hoje tradicional campeonato remonta a uma ideia surgida na pequena Esmeralda
Produzido por José Clemente Pozenato, 15/09/2022 às 09:34:32
Foto: Marcos Fernando Kirst

Em plena realização dos Festejos Farroupilhas, como vêm sendo chamados os eventos que precedem a data maior dos gaúchos, em várias localidades está programada a realização de torneios de laço de vaca parada. E não só no Rio Grande do Sul. Fora de suas fronteiras, onde haja um Centro de Tradições Gaúchas, esse desafio de laçadores também se realiza.

Em Caxias do Sul está previsto que os Festejos Farroupilhas se encerram, no dia 20 de setembro, com nada menos que um Campeonato Regional de Vaca Parada. Ele deve ser realizado a partir das nove horas da manhã, nos pavilhões da Festa da Uva.

Muitas perguntas com certeza estão no ar sobre esse tipo de torneio: Onde teve origem? Quando começou? E por que é tão cultivado e valorizado?

Na virada do século passado, quando houve uma sequência de construção de hidrelétricas nos rios Pelotas e Uruguai, e também no Rio das Antas, a equipe do projeto ECIRS, da UCS, realizou uma série de atividades de resgate da cultura das regiões atingidas pelas barragens, com o patrocínio do Ministério da Cultura. Uma delas foi a área da barragem de Machadinho, antigo distrito de Lagoa Vermelha, que faz divisa com Esmeralda, município desmembrado de Vacaria. Todos esses trabalhos foram publicados em livros pela EDUCS.

Em Esmeralda, onde a cultura local guarda marcas profundas do Caminho das Tropas, foi relatada a história do surgimento dos torneios de laço. Ser competente em laçar gado era o principal atributo de um bom tropeiro. E quem forneceu maiores detalhes dessa invenção foi um ex-tropeiro, antigo morador de Esmeralda. Contou que quem teve a ideia foi um fazendeiro do lugar, chamado Alfredo José dos Santos. Ele propôs que, em vez de fundar um time de futebol, como alguns queriam, se fizesse uma diversão com o que todos sabiam fazer: andar a cavalo, laçar. Este é um trecho de seu relato:

"Em 1951 fizemos aquela invenção. Foi a maior, se extraviou pelo mundo inteiro. O nosso aqui foi o pioneiro do laço, o primeiro no mundo. Aí a gente continuou gostando da coisa. É como beber cachaça, toma um gole quer outro".

Para treinar os competidores, tornando mais interessante a disputa, seu Alfredo José dos Santos propôs a criação de um espaço, onde um cavalete com chifres fosse o alvo dos laçadores. De lugar de treino, o espaço se tornou um lugar de competição, sendo criado até um regulamento, com regras a serem observadas. A esse tipo de esporte foi dado então o nome de Torneio de laço de vaca parada.

Com o passar do tempo, principalmente a partir dos anos setenta, começou a grande migração, chamada de êxodo rural, do campo para as cidades. E o torneio de laço seguiu como patrimônio dos migrantes. Como não era possível levar junto as vacas para serem laçadas, foi introduzido o torneio de laço com vaca parada. No bairro Sagrada Família, local de grande migração vinda dos Campos de Cima da Serra, onde residi por bastante tempo, havia um espaço para laçar vaca parada, bem na esquina da Rua Conselheiro Dantas com a Rua Irma Zago.

Esse fenômeno aconteceu não apenas em Caxias do Sul. É só percorrer as redes de notícias para verificar que ele está presente no Rio Grande do Sul inteiro, em Santa Catarina e Brasil afora. Talvez até, como disse o ex-tropeiro de Esmeralda, esse torneio esteja “extraviado pelo mundo inteiro”...

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

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