Caxias do Sul 29/03/2024

O inimigo é invisível, mas os efeitos são visíveis e graves

Reflexo das medidas de restrição à Covid-19 atinge toda a economia e traz insegurança aos 80 mil funcionários dos setores de comércio e serviços em Caxias do Sul
Produzido por Paulo Magnani, 19/03/2021 às 09:25:38
Foto: Gilmar Gomes

Neste momento em que a pandemia escancara o altíssimo risco à saúde da população, exigindo limitações de circulação de público para o controle de sua propagação a partir do esgotamento hospitalar, o comércio vive uma das piores crises de sua história.

Há um ano, o abre e fecha das lojas e as incertezas trazidas ao consumidor deixaram o varejo em compasso de interrogação. Os dilemas são muitos, e começam em como manter a equipe de profissionais, adotando estratégias como o home office e a antecipação de férias. Mas vão além: os preços dos produtos não param de subir, consequência de um contexto de dificuldade de abastecimento e do câmbio, e os boletos se avolumam em forma de impostos e custos crescentes de despesas fixas, incluindo os aluguéis dos pontos comerciais, que sofreram um reajuste de 25% em um ano.

Como ex-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias do Sul, me solidarizo às famílias que perderam seus entes queridos por essa cruel doença, assim como a toda a classe empresarial, por vivermos um momento sem precedentes, no qual precisamos equalizar a saúde de nossas equipes e clientes com a sustentabilidade de nossos negócios.

Como comerciante há décadas da área de materiais elétricos, itens de iluminação e energia solar, concordo com os meus colegas e lideranças de entidades de classe que, sim, todos os setores são essenciais. Podem não serem aparentemente vitais à vida, mas são essenciais a quem depende do seu suor e trabalho para viver e garantir a sobrevivência digna.

No nosso setor, estamos enquadrados entre os segmentos essenciais e, portanto, tivemos a condição de nos manter abertos durante todas as bandeiras, seguindo protocolos rígidos de distanciamento e com restrições de atendimento. Alguns perguntarão: mas por que é essencial o ramo de material elétrico? Estamos com nossa equipe 100% de plantão para o caso de alguma pane elétrica em hospitais, supermercados e residências, que venham a demandar todo o tipo de equipamento, suporte e solução para manter os sistemas elétricos de aparelhos de saúde para a manutenção da vida, refrigeração de alimentos e sistemas que garantam internet e wi-fi de tantos profissionais que atuam em empresas ou em formato home office.

Mas, de forma alguma, nos sentimos privilegiados. Todos somos essenciais. Todos somos vítimas. Estamos todos remando contra um oceano de dificuldades e incertezas que só a união e o olhar coletivo poderão nos fortalecer nesse momento severo. Até porque nossos clientes também foram impactados pelas medidas bruscas de bandeira preta (risco altíssimo para contágio pela Covid-19 no Modelo de Distanciamento Controlado do governo do Estado) e, com isso, embora estejamos de portas abertas, as vendas caíram de forma gritante. Por vezes, alguns setores essenciais estão trabalhando no vermelho, pois o faturamento não compensa o custo de abertura de um negócio. Menos gente circulando e a insegurança travam todo o tipo de investimento. A economia depende de “acreditar” no futuro, algo nebuloso no Brasil em várias esferas.

Ou seja, nos aliamos à campanha da CDL Caxias “Os estabelecimentos pedem socorro. A economia também está morrendo”. Só o comércio local está deixando de arrecadar R$ 3,2 milhões por dia por conta das medidas de limitação ao funcionamento das atividades, aponta estudo da entidade, que estima ainda que, em 2020, R$ 412 milhões foram perdidos na cidade. Cerca de 80 mil empregos formais dependem dos setores do comércio e dos serviços em Caxias do Sul, mais de 50% das vagas formais. No ano passado, 2,3 mil postos de trabalho foram extintos só nesses dois segmentos do município. Os números chocam.

Não só as empresas estão todas sendo impactadas pelo cenário de desolamento como as famílias. Além de lidar com o risco de contaminação de um vírus que pode ser letal, outros dilemas tiram o sono e a saúde emocional, como endividamento, perda de emprego e falência financeira.

Ou seja, o futuro é incerto e depende da vacinação em massa, a extensão da gravidade da Covid-19 ainda é imprevisível, a possibilidade de volta da cogestão na próxima semana, permitindo o funcionamento do varejo não essencial, joga uma gota de esperança no comércio. Mas, mesmo assim, precisamos nos unir e nos solidarizar neste momento em que todos lutamos contra um inimigo invisível, mas cujos efeitos são altamente visíveis e graves na saúde e na economia a longo prazo.

Paulo Magnani é diretor geral da Magnani Luz e Energia, com 50 anos de história, sede em Caxias do Sul e filial em Torres. Já foi presidente da CDL de Caxias do Sul.

Veja também um vídeo com uma mensagem de esperança produzido pela empresa:

A vida pede esperança