Caxias do Sul 04/05/2024

A pesquisa nos 150 anos da Imigração Italiana no RS

A inestimável contribuição historiográfica de João Spadari Adami para a manutenção da memória da colonização
Produzido por José Clemente Pozenato, 08/02/2024 às 13:35:19
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”
Foto: Marcos Fernando Kirst

A Universidade de Caxias do Sul divulgou há duas semanas seu “Calendário acadêmico e cultural alusivo aos 150 anos da Imigração Italiana no RS, num programa que contempla dezenas de ações ao longo de 2024 e 2025”.

No centenário da Imigração Italiana, também a UCS criou um programa de recuperação da memória e dos valores culturais da imigração. O principal marco foi a criação de um Instituto para realizar as pesquisas e as articulações necessárias. Ele teve a designação de ISBIEP – Instituto Superior Brasileiro-Italiano de Estudos e Pesquisas -, decorrente de proposta formulada pelo professor e pesquisador Ciro Mioranza, que havia estudado 10 anos na Itália. O nome do Instituto indicava que uma de suas metas era realizar intercâmbio com instituições universitárias italianas, o que aconteceu de fato, em especial com a Universidade de Pádua.

A partir daí, os estudos e pesquisas sobre a imigração italiana passaram a ter respaldo institucional, que teria reforço num órgão público: o Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Antes dessa institucionalização, a recuperação da memória e da cultura da cidade e da região era feita por pesquisadores individuais. Três nomes marcaram essa trajetória. O primeiro foi, sem qualquer discussão, João Spadari Adami, que dá nome ao Arquivo Histórico de Caxias do Sul. O segundo, em ordem cronológica, foi o baiano Thales de Azevedo, cuja presença em nossa história cultural já rememorei aqui. O terceiro, do qual fui devedor em muitas pistas para escrever meus romances, foi Mario Gardelin. Mesmo sem terem feito um trabalho individual, eles construíram um acervo precioso de dados que ficarão na história.

João Spadari Adami, em seu livro História de Caxias do Sul: 1864-1962 (do qual possuo um exemplar por ele autografado em 14 de maio de 1964), tinha ciência da importância de seu trabalho, tanto que dedica sua obra a Nossa Senhora Aparecida, nos seguintes termos:

Foi Ela quem, a meu pedido, com o brilho do Seu ser, tornou visíveis os caminhos, através a escuridão do passado, até a jazida das pérolas da Colônia Caxias, guardadas pelos construtores da Civilização Caxiense, para que eu as trouxesse à luz, ao conhecimento de todos, por meio deste meu trabalho histórico.

Obrigado, muito obrigado Padroeira do Brasil.

Para dar um exemplo do que ele encontrou na “jazida de pérolas”, vai aqui uma síntese da divisão territorial da Colônia Caxias, sobre a qual Adami relaciona seus primeiros habitantes. A fonte dos dados, informa o autor, “é um produto do recenseamento para a emancipação da Colônia e anexá-la ao município de São Sebastião do Caí, realizado entre os anos de 1880 e 1884”.

PRIMEIRA LÉGUA: Travessão Milanês e Travessão São José. SEGUNDA LÉGUA: Travessão Trentino, Travessão São João e Travessão São Vigílio. TERCEIRA LÉGUA: Travessão “Crystal” e Travessão Santa Rita. QUARTA LÉGUA; Travessão Barata Goes, Travessão Tirolês e Travessão Vêneto. QUINTA LÉGUA: Travessão Santa Teresa e Travessão Solferino. SEXTA LÉGUA: Travessão José Bonifácio, Travessão Umberto I, Travessão Herminia, Travessão Carlos Gomes, Travessão 15 de Fevereiro, e Travessão Pihaí.

João Spadari Adami relaciona também a Divisão Territorial da SEDE DANTE, hoje cidade de Caxias do Sul. Estava ela dividida em 77 quadras, cada uma delas com até 10 lotes. E Adami relaciona os primeiros moradores de cada lote “iniciada sua entrada em meados do ano de 1876 até o ano de 1883, época do final deste registro”. Acrescenta ainda as profissões existentes: “Na Quadra nº 2: um carreteiro e um jornaleiro. Na Quadra nº 3: um alfaiate, um carpinteiro, um agricultor e um pedreiro. Na Quadra nº 4: um tanoeiro, um carpinteiro e um negociante. Na Quadra nº 5: dois professores públicos, um escriturário da Comissão de Terras e três negociantes”.

Verdadeiras “pérolas”, sem dúvida nenhuma!

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

Do mesmo autor, leia outro texto AQUI